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Crítica - Comédia-musical

'Jacinta' reafirma clichês sobre portugueses

Apesar do bom desempenho dos atores, montagem decepciona com lugares-comuns e música pouco expressiva

CAROLIN OVERHOFF FERREIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O musical "Jacinta", escrito por Newton Moreno, Aderbal Freire-Filho (direção) e Branco Mello (direção musical), revisita os clichês acerca da colonização portuguesa do Brasil e brinca com mais um para homenagear o teatro mundial, sobretudo, o popular ibérico: a pior atriz do mundo era portuguesa até tornar-se a melhor atriz brasileira. A ideia oferece uma visão inédita nacional sobre a troca cultural entre os palcos portugueses e brasileiros.

Porém, a sátira dos colonos, aliada a reflexões sobre o ofício teatral em tom de farsa, não se evidenciam e acabam reforçando os estereótipos mais do que conhecidos. A razão: o enredo é fraco e a música algo repetitiva, carecendo ainda de qualidade sonora no palco.

O problema não são as letras rimadas e muitas vezes espirituosas, inspirados em poetas como Gil Vicente e Shakespeare, que contam a falta de talento de Jacinta (Andrea Beltrão).

É a história em si que dá margem para excessos e repete lugares-comuns.

Tudo começa quando a mão de Gil Vicente é cortada após ela representar uma de suas obras perante a rainha Maria que, desgostada, manda-a para o exílio no Brasil. No país tropical, habitado por desbravadores incivilizados, ela tenta nas mais diversas ocasiões aprender o ofício, mas vai de mal a pior. É criticada e --apelativamente-- diversas vezes violada.

Sua vida muda quando reencontra um poeta que conheceu na travessia. A seu lado vive a fama na colônia. Quando retorna a Portugal, ouve finalmente os aplausos que tanto desejava.

Cantando música pop-rock que faz citações a outros estilos musicais mas permanece pouco expressiva e variada, Beltrão contracena com cinco atores-cantores (Augusto Madeira, Gillray Coutinho, Isio Ghelman, José Mauro Brant, Rodrigo França) em constante troca de papéis.

Impressiona a disposição com que enfrenta duas horas agitadas no palco. Procura dar uma dimensão mais densa e humana à personagem burlesca: nos momentos em que o musical aponta para um viés critico ao expor sua pobreza --quando trabalha como provedora do palácio-- ou explora a paixão pelo teatro no encontro com outra atriz, provavelmente sua mãe, que a abandonou para dedicar-se aos palcos.

Mas a disposição e boa forma não conseguem iludir: a comédia possui graça apenas em poucos momentos.

Há muitas cenas nas quais o exagero, as extravagâncias e a frouxa história chegam a ser entediantes. Por exemplo, quando Jacinta e uma trupe de marginais --previsivelmente um travesti, um cristão-novo e uma prostituta-- são introduzidos na arte da interpretação por um coveiro e antigo ator, após terem matado de rir um inquisidor com uma apresentação teatral.

As lições de Shakespeare em meio do Amazonas convencem mais, devido à interpretação inspirada de Ghelman (engraçado também como rainha), mas sobretudo porque Hamlet sempre oferece elementos interessantes.

Não são poupados os esforços dos atores que trabalham de forma versátil a teatralidade do espetáculo e dão conta da troca de figurino (Antonio Medeiros) e do cenário (Fernando Mello da Costa) que se prestam de forma bem pensada às mudanças. Mas os problemas permanecem as inconstâncias e clichês no enredo e o excesso na sua tradução como comédia física.

Assim, o desempenho admirável dos atores não consegue afirmar a celebração do teatro intencionada.


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