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Mostras exibem cheios e vazios de Mira

Pinturas e monotipias sobre papel japonês estão em exposições na Caixa Cultural e no Instituto Moreira Salles

Em 2013, Tate Modern, em Londres, fará a maior mostra até agora da artista, com obras de todas as suas fases

Divulgação
Obra de Mira Schendel que está na Caixa Cultural
Obra de Mira Schendel que está na Caixa Cultural

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Mira Schendel (1919-1988)se dividiu entre a densidade e a transparência, ambas absolutas.

Nas pinturas que a artista suíça fez quando se mudou para o Brasil em 1949, tratou de revisitar o universo plástico de italianos como Morandi e De Chirico, que viu de perto em Milão, onde cresceu.

Suas paisagens e naturezas-mortas depois se diluíram numa abstração sóbria, de paleta reduzida, tons terrosos e o peso explicitado da matéria acumulada na tela.

Mas Schendel também renunciaria ao peso, deslocando a atenção para o papel. Põs em foco a transparência, planos atravessados de luz e vazios esbranquiçados.

Essas duas vertentes de sua obra estão expostas agora em mostras paralelas em São Paulo. Enquanto a Caixa Cultural exibe sua produção em papel, as monotipias e desenhos datilografados, o Instituto Moreira Salles tem um recorte de sua pintura.

Em 2013, a Tate Modern, em Londres, reúne tudo isso na maior mostra já dedicada à artista, que ganhou os holofotes no circuito global depois da mostra ao lado do argentino León Ferrari que esteve no MoMA, em Nova York, e no Reina Sofía, em Madri.

Digerindo a influência de sua matriz italiana, Schendel construiu um repertório de garrafas, copos, peixes e facas em tons de cinza e marrom. Depois, pensando no casario geométrico de Volpi, também desandou a construir fachadas quadriculadas.

Mas a sua era uma geometria diferente. Schendel se aproximou do vocabulário construtivo sem se render a seu rigor, mantendo uma presença do corpo nas linhas, arredondando alguns ângulos e exacerbando as texturas.

"Por mais que se usem formas geométricas, o elemento sensorial da pincelada, a textura está sempre presente", afirmou Schendel numa entrevista. "Nunca podemos escapar da corporeidade."

E ela buscava um corpo rude e delicado ao mesmo tempo. Nas pinturas sobre juta, deixava exposta a trama grosseira do tecido. Nos desenhos sobre as folhas translúcidas de papel japonês, construía garranchos mínimos, vestígios vagos de forma e cor.

"É sempre uma paleta muito baixa e uma geometria pouco ortodoxa, mais sensível", diz Maria Eduarda Marques, curadora da mostra no IMS. "A pintura foi o espaço da densidade, e o papel foi o espaço da transparência."

Mas, além disso, num híbrido entre pintura e escultura, Schendel inventou uma plataforma neutra para um salto no espaço. Nos "Sarrafos", obras dos anos 1980 que a artista dizia serem suas mais agressivas, implantou braços negros de metal sobre telas que deixou em branco.

Era sua resposta ao Brasil que emergia de décadas de ditadura, reação à "desordem" e ao "marasmo" daqueles tempos em que "parecia que estávamos morando numa Weimar tropical". E ali Schendel juntou plano, corpo e pensamento político sob uma camada plástica que se desdobra furiosa no espaço.

MIRA SCHENDEL

QUANDO de ter. a dom., das 9h às 21h; até 26/2 (Caixa Cultural); de ter. a sex., 13h às 19h; sáb. e dom., 13h às 18h; até 11/3 (IMS)
ONDE Caixa Cultural (pça. da Sé, 111, tel. 3321-4400); IMS (r. Piauí, 844, tel. 3825-2560)
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