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Crítica Música Erudita

Ópera mostra São Paulo leve e melancólica

Montagem de apelo nostálgico exibe capital 'interiorana', com mãe e filho passeando pela praça Marechal Deodoro

Com direção cênica sensível, a montagem contou com elenco que foi quase totalmente extraído da Academia de Ópera do Theatro São Pedro, que já começa a dar frutos

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

À indagação da criança -"O que quer dizer livre?"-, o homem que desceu na rua Augusta gritou: "O que está escrito ali, não é livre, é livro. Que Deus o abençoe e o livre da tentação das coisas inexistentes".

No final de seu conto "O Menino e a Liberdade" (1957), Paulo Bonfim integra -em uma ironia de aura leve e utópica- a cidade de São Paulo, o aprendizado da leitura, o livro como falsificação da realidade e a liberdade como tentação da qual "devemos nos livrar".

Para transformar esse conto em canto, o compositor Ronaldo Miranda partiu de um libreto preparado por Jorge Coli. É uma ópera breve, de ato único, que estreou no ano passado e volta agora ao palco do Theatro São Pedro sob a direção de Emiliano Patarra.

Na caracterização da tentação da liberdade, Miranda utiliza -desde a abertura- variações sobre a melodia do Hino da República ("Liberdade / Abre as asas sobre nós"), de Leopoldo Miguez (1850-1902).

Compõe música leve, às vezes divertida, às vezes melancólica. Nascido no Rio de Janeiro -e há dez anos professor de composição na USP-, Ronaldo inventa uma São Paulo interiorana, urbana sem modernismos, cheia de ternura.

Para uma cidade que se fez tão forte e agressiva, Miranda, Coli e Bonfim oferecem Villa-Lobos sem folclore, Mignone sem Chopin, rádio sem "Trem das 11", Mário sem Oswald de Andrade, mãe passeando com o filho na praça Marechal Deodoro.

Coli amplifica o conto com os sonhos e desejos reprimidos de cada pessoa do lotação. Para ele, a vida paulistana se funda em uma contenção -não destituída de beleza. E às cômicas citações de Bismarck, Goethe, Kant e Sêneca, adiciona o epicurista Lucrécio.

Com direção cênica sensível de Mauro Wrona, a montagem contou com elenco quase totalmente extraído da Academia de Ópera do Theatro São Pedro, que já começa a dar frutos.

DESTAQUES DO ELENCO

Chiara Santoro (A Moça) saiu-se bem em uma cena difícil logo no começo; Caroline Jadach (A Mãe) teve bons momentos no dueto com o trombonista Tiago Azevedo; Ivan Marinho foi bem como O Menino, assim como Sebastião Teixeira (Senhor Distinto).

Destaques especiais para o tenor Aníbal Mancini (O Rapaz), de voz homogênea e expressão clara, e o barítono Johnny França (O Chofer), ótimo no tango de quem sonha "ser livre como um táxi".

Regida pelo próprio Patarra, a Orquestra do Theatro São Pedro enfrentou concentrada o colorido nostálgico da partitura.

Já foi anunciado que a parceria Miranda-Coli renderá a encomenda de duas novas óperas a serem estreadas no Theatro São Pedro em 2015 e 2017.


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