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CRÍTICA CINEMA

CCBB enfoca intransigência de Straub e Huillet

Marxismo é a fonte intelectual do casal de diretores franceses, que ganha retrospectiva a partir de hoje em SP

ALCINO LEITE NETO
ARTICULISTA DA FOLHA

Apesar de sua enorme importância para o cinema, a obra do casal Jean-Marie Straub e Danièle Huillet permanece muito pouco conhecida no Brasil fora dos círculos cinéfilos mais "eruditos".

Portanto é um dos eventos culturais do ano a retrospectiva no CCBB, com vários filmes inéditos no país.

Straub (1933) e Huillet (1936-2006) são franceses, mas filmaram sobretudo na Alemanha (onde se exilaram em 1958, após Straub se recusar a servir na guerra da Argélia) e na Itália (para onde se mudaram em 1969).

Seus primeiros filmes emergem no período do alto modernismo cinematográfico, após a nouvelle vague (anos 1960) e com os chamados "cinemas novos". É uma época de grande liberdade e também muito politizada.

O marxismo é a fonte intelectual e política dos diretores. Mas não são doutrinários. Com sua estética intransigente e muito reflexiva, exigem o máximo da inteligência crítica, da atenção e da percepção do espectador, ao tratarem de seus temas dominantes: as formas de opressão e exploração, a luta de classes, a resistência e a revolução.

Em geral, os filmes partem de obras canônicas e textos importantes da alta cultura -clássica ou moderna-, como uma ópera de Schönberg ("Moisés e Arão", 1974), um romance de Kafka ("América", no filme "Relações de Classe", 1983) ou uma peça de Hölderlin ("A Morte de Empédocles", 1986).

À maneira do que fez Brecht com "Antígona" (de Sófocles), Straub-Huillet reveem esses textos à luz do materialismo histórico, convidando a abandonar a leitura idealista das obras e a fazer uma prospecção de seus conteúdos e impasses políticos.

Como no (genial) curta "Toda Revolução É um Golpe de Dados" (1977), em que atores recitam o poema revolucionário de Mallarmé ("Um Golpe de Dados Jamais Abolirá o Acaso", 1897) no cemitério onde estão enterrados os revoltosos mortos durante a Comuna de Paris (1871).

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