Le Guay reconstrói história francesa com saudosismo antiquado

Reconstituir o passado para apagar todos os traços de conflito. Devolvê-lo ao presente embalado como um tempo utópico marcado pelo equilíbrio social, no qual a imigração não era problema, mas solução.

Com essa releitura da história como conto da carochinha, "As Mulheres do 6º Andar" foi recebido com bastante simpatia pelo público francês, que encontrou no filme a reabilitação de um velho mito de sua civilização.

Pudera. Em vez dos tempos sombrios que a Europa vive, o longa dirigido por Phillipe Le Guay projeta a imagem de uma França humanista e acolhedora nos anos 1960, onde Paris, antes de ser apenas destino turístico, servia de refúgio ideal para mulheres espanholas que tentavam escapar da miséria ou fugiam da perseguição política da ditadura franquista.

Nessa representação contaminada por saudosismo antiquado, as mulheres encontram papéis de empregadas ou madames. Enquanto o homem desempenha a função de benfeitor ou amante.

Estamos longe do sarcasmo de "Potiche: Esposa Troféu", em que François Ozon praticava o recuo no tempo para melhor subverter os estereótipos associados aos gêneros feminino e masculino.

E mais longe ainda das fábulas matriarcais de Almodóvar, cujo poder de sedução o longa francês acredita mimetizar ao incluir no elenco Carmen Maura e Lola Dueñas, ícones do cineasta espanhol.

No lugar disso, "As Mulheres do 6º Andar" reúne os recursos habituais do que os americanos batizaram com a expressão "feel-good movie", ou seja, "filme para cima", feito para quem procura no cinema apenas divertimento, mas que paga o ingresso confiante de que a experiência vai agregar valor positivo.

Muita gente pode só achar divertido, mas tanto moralismo não se consome inocentemente.

AS MULHERES DO 6º ANDAR
DIREÇÃO Philippe Le Guay
PRODUÇÃO França, 2011
ONDE no Espaço Unibanco Augusta, Espaço Unibanco Pompeia e Frei Caneca Unibanco Arteplex
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO regular