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Crítica erudito Osesp mostra evolução rápida com nova regente Com violoncelista Antonio Meneses, Marin Alsop consegue 'desligar' gentilmente a orquestra sem perder o chão
CRÍTICO DA FOLHA O som das cordas da Osesp na abertura do "Concerto para Violoncelo" de Dvorák (1841-1904) mostra a capacidade de trabalho de Marin Alsop, a nova regente titular: redondo, definido e um pouco mais grave, é notável que esse timbre transpareça em tão pouco tempo. A obra tem a unidade motívica de Beethoven como seu pressuposto, a "Sinfonia Inacabada" de Schubert como sua inspiração, e antecipa até mesmo traços mahlerianos, como a marcialidade e o final de forma serena. Meneses estava inspirado. Para além de sua elegância, tudo era frase, tempo e som. Tempo qualificado, som tirado do instante, e senso fraseológico de camerista. Em entrevista à Folha realizada antes do primeiro ensaio, Meneses afirmou temer "o peso da orquestração dos sopros", segundo ele o principal perigo da obra. Mas todas as notas do solista foram ouvidas. Atenta a cada intenção, Alsop é capaz de "desligar" gentilmente a orquestra sem perder o chão ou riqueza de contrastes. A voz humana tem sido importante neste início da temporada da Osesp. A "Sinfonia nº 3", de Leonard Bernstein (1918-90), apresentada após o intervalo, fecha um ciclo de obras programadas com inteligência e sensibilidade. O compositor -que Marin chamou de "mentor" em bom português- parte do "Kaddish" (prece de luto hebraica) para tecer uma reflexão densa sobre a condição da humanidade desamparada diante da morte de Deus e da tonalidade. Traduzido para o português por Arthur Nestrovski (diretor artístico da orquestra), o texto do próprio Bernstein foi recitado com categoria pelo ator Dan Stulbach, que usa bem a voz e sabe dialogar com os rigores do tempo musical. Bernstein escreve tão bem que a partitura parece resolver até mesmo os imprevistos (como o som um pouco alto na narração). A música utiliza predominantemente um dodecafonismo próximo ao "Wozzeck", de Alban Berg, e conta também com soprano solista, coro adulto e infantil. No segundo "Kaddish", porém, tudo fica tonal, o que alguns poderiam apontar como retrocesso. Mas essa não é a única interpretação: afinal, os sentidos não cabem nas formas, e toda maneira de som pode valer a pena.
OSESP COM MARIN ALSOP E ANTONIO MENESES |
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