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CRÍTICA DOCUMENTÁRIO

Músicos miseráveis do Congo cumprem jornada até o disco

Formado por vítimas de pólio, grupo Benda Balili foi das ruas a Cannes

Divulgação
Ricky Luckabu, que fundou o grupo de rua Benda Bilili
Ricky Luckabu, que fundou o grupo de rua Benda Bilili

THALES DE MENEZES
EDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

UM ADOLESCENTE, QUE HOJE FAZ PARTE DA BANDA, COMEÇOU COM UM INSTRUMENTO QUE FEZ USANDO LATA, SUCATA e CORDA CATADOS NO LIXO

Em um festival de documentários musicais, o que mais aparece é filme sobre a vida de grandes músicos fora dos palcos, tentando mostrar o lado "gente" de grandes nomes do pop.

A quarta edição do In-Edit, evento paulistano com 77 filmes do gênero, apresenta um documentário rodado durante cinco anos no Congo que ensina muito mais sobre o poder redentor da música do que qualquer retrato de uma estrela famosa.

"Benda Bilili!" nasceu de uma visita dos cineastas franceses Renaud Barret e Florent de la Tullaye a Kinshasa, capital do Congo, em 2004.

Os dois buscavam material para um documentário sobre música urbana na África.

No zoológico da cidade, semidestruído e com pessoas e animais dividindo algumas jaulas para moradia, os dois encontraram o Benda Bilili, grupo de quatro cadeirantes que se encontravam ali para tocar com violões quebrados, que retiraram do lixo.

Vítimas de poliomielite, eles percorriam as ruas tocando por trocados, acompanhados por garotos que empurravam suas cadeiras e os ajudavam a sair delas.

Impressionados pelo som do quarteto, algo entre a rumba e o reggae de raiz, com letras diretas sobre seu dia a dia de sobrevivência na cidade, os cineastas se empenharam para que o grupo gravasse um disco. No processo, rodaram um filme emocionante sobre essa trajetória de cinco anos.

"Bella Bilili!" fez sua estreia mundial em 2010, abrindo a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes -um ano depois do lançamento do primeiro disco da banda, chamado "Très Très Fort".

É impressionante constatar a projeção atual do grupo depois de ver as condições de seus integrantes em 2004, mostradas sem sentimentalismo no documentário.

Se os violões toscos dos músicos já impressionam, remendado com pedaços de madeira, alguns só com uma ou duas cordas, mais incrível ainda é a determinação de um garoto que deixa as gangues e entra na banda com algo mais improvisado ainda.

O adolescente colocou um cabo curvo de metal dentro de uma latinha velha e esticou neles uma corda de náilon. Toca seu instrumento com a unha, tentando fazer ritmo com a variação do intervalo das batidas.

Acha que toca violão, mas faz percussão. Não importa. Suas entrevistas passam tanto entusiasmo e confiança que comovem. "Com isso aqui vou sustentar a minha mãe", diz, agachado sobre o papelão que usa como cama.

Ver o rapaz cinco anos depois, ainda adolescente, mas encorpado e tocando para plateias na Europa, é um testemunho da força da música.

"Benda Bilili!" é daqueles filmes que fazem o espectador sair do cinema repensando a própria vida.

BENDA BILILI!

ORIGEM França/Congo, 2009
DIREÇÃO Renaud Barret e Florent de la Tullaye
ONDE Cine Livraria Cultura
QUANDO hoje, às 19h
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO ótimo

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