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Crítica musical

Elenco jovem é trunfo de montagem de 'Fame'

Trama adolescente e de inclinação multiculturalista envelheceu mal, por causa do desfile de clichês e do esquematismo

Está na hora de os produtores e diretores brasileiros de musicais serem um pouco mais maduros e audaciosos nas adaptações

João Caldas/Divulgação
Cena domusical "Fame", encenado em São Paulo
Cena domusical "Fame", encenado em São Paulo

ALCINO LEITE NETO
ARTICULISTA DA FOLHA

Em 1980, o filme musical "Fame", dirigido por Alan Parker, foi um dos primeiros a adotar, num produto dirigido ao grande público, uma visada multiculturalista. Nos anos seguintes, tal perspectiva se tornaria habitual na indústria do show business.

O enredo falava de uma escola de artes dramáticas em Nova York, onde se reuniam alunos de diferentes classes sociais, raças, religiões e orientações sexuais.

Dramas e conflitos de toda ordem eclodiam, mas aos poucos arrefeciam, dando lugar ao ideal maior de confraternização e superação pelo amor, pelo trabalho e pela arte.

Filme adolescente e "escolar", "Fame" tinha como principal lição não o caminho a seguir para atingir a fama, mas o que se devia trilhar para aprender a conviver com a diferença. O multiculturalismo é um humanismo.

Hoje, filmes ou programas infantis ou juvenis sempre se lembram de colocar em cena um negro, um nerd, um gordo, um garoto de orientação sexual duvidosa -ou, se se trata de um desenho, um bichinho esquisito que precisa ser inserido "no coletivo".

Isso virou quase uma convenção ou uma pedagogia de nossos tempos.

A peça musical "Fame", lançada em 1988 nos EUA e em cartaz em São Paulo, segue a mesma lógica do produto cinematográfico que a inspirou. Porém, passados mais de 30 anos da estreia do filme, a trama de "Fame" se desgastou ruidosamente.

Envelheceu mal, deteriorada no entretempo por 1.001 variações sobre o mesmo assunto e deixando ver com mais clareza a sua fragilidade: a narrativa esquemática, a série de clichês e a pouca inventividade dramática.

A versão paulista enfrenta pouco esse problema, esse desgaste provocado pelo tempo, pela história.

É uma montagem essencialmente nostálgica, sem olhar crítico, sem novidades.

Está na hora de os produtores e diretores brasileiros de musicais serem um pouco mais maduros e audaciosos nas adaptações das velhas franquias americanas -ou criarem seus próprios espetáculos novos e brasileiros, já que há tanto interesse do público por essa forma de entretenimento.

Se é que se pode ver alguma oportunidade na montagem de "Fame", esta é a chance que abre ao trabalho e à formação de jovens atores no gênero musical, tanto mais que não se trata de um espetáculo dramaticamente muito difícil de enfrentar.

É o que ocorre na montagem paulista, que conta com promissores atores em formação, entre os quais se destaca Corina Sabbas, que consegue imprimir ao seu papel uma intensidade inesperada.

Fame
QUANDO qui., às 21h; sex., às 21h30; sáb., às 17h e 21h, e dom., às 18h
ONDE teatro Shopping Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, 6º andar; tel. 2229-2230)
QUANTO de R$ 50 a R$ 100
AVALIAÇÃO regular

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