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Crítica musical Elenco jovem é trunfo de montagem de 'Fame' Trama adolescente e de inclinação multiculturalista envelheceu mal, por causa do desfile de clichês e do esquematismo Está na hora de os produtores e diretores brasileiros de musicais serem um pouco mais maduros e audaciosos nas adaptações
ARTICULISTA DA FOLHA Em 1980, o filme musical "Fame", dirigido por Alan Parker, foi um dos primeiros a adotar, num produto dirigido ao grande público, uma visada multiculturalista. Nos anos seguintes, tal perspectiva se tornaria habitual na indústria do show business. O enredo falava de uma escola de artes dramáticas em Nova York, onde se reuniam alunos de diferentes classes sociais, raças, religiões e orientações sexuais. Dramas e conflitos de toda ordem eclodiam, mas aos poucos arrefeciam, dando lugar ao ideal maior de confraternização e superação pelo amor, pelo trabalho e pela arte. Filme adolescente e "escolar", "Fame" tinha como principal lição não o caminho a seguir para atingir a fama, mas o que se devia trilhar para aprender a conviver com a diferença. O multiculturalismo é um humanismo. Hoje, filmes ou programas infantis ou juvenis sempre se lembram de colocar em cena um negro, um nerd, um gordo, um garoto de orientação sexual duvidosa -ou, se se trata de um desenho, um bichinho esquisito que precisa ser inserido "no coletivo". Isso virou quase uma convenção ou uma pedagogia de nossos tempos. A peça musical "Fame", lançada em 1988 nos EUA e em cartaz em São Paulo, segue a mesma lógica do produto cinematográfico que a inspirou. Porém, passados mais de 30 anos da estreia do filme, a trama de "Fame" se desgastou ruidosamente. Envelheceu mal, deteriorada no entretempo por 1.001 variações sobre o mesmo assunto e deixando ver com mais clareza a sua fragilidade: a narrativa esquemática, a série de clichês e a pouca inventividade dramática. A versão paulista enfrenta pouco esse problema, esse desgaste provocado pelo tempo, pela história. É uma montagem essencialmente nostálgica, sem olhar crítico, sem novidades. Está na hora de os produtores e diretores brasileiros de musicais serem um pouco mais maduros e audaciosos nas adaptações das velhas franquias americanas -ou criarem seus próprios espetáculos novos e brasileiros, já que há tanto interesse do público por essa forma de entretenimento. Se é que se pode ver alguma oportunidade na montagem de "Fame", esta é a chance que abre ao trabalho e à formação de jovens atores no gênero musical, tanto mais que não se trata de um espetáculo dramaticamente muito difícil de enfrentar. É o que ocorre na montagem paulista, que conta com promissores atores em formação, entre os quais se destaca Corina Sabbas, que consegue imprimir ao seu papel uma intensidade inesperada. Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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