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Mostra exibirá filmes de Nicholas Ray

CCBB-SP promove retrospectiva sobre o diretor de "Juventude Transviada"; viúva de Ray faz seminário hoje

Cinema de Ray, em Hollywood, entre 1948 e 1963, é radical no modo de narrar o lado B do sonho americano

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Divulgação
O diretor Nicholas ray (dir.) dirige James Dean e Natalie Wood em "Juventude transviada" (1955); mostra exibirá filme
O diretor Nicholas ray (dir.) dirige James Dean e Natalie Wood em "Juventude transviada" (1955); mostra exibirá filme

"Sou um estranho aqui." A fórmula usada mais de uma vez pelo diretor norte-americano Nicholas Ray (1911-1979) para se autodefinir, e a seus personagens também, serve para explicar seu lugar na Hollywood dos anos 50.
No ano do centenário do nascimento do cineasta, o CCBB arremata a temporada de gloriosas retrospectivas, como as dedicadas a Alfred Hitchcock e a Vincente Minnelli, com a mostra "O Cinema É Nicholas Ray".
De hoje até o dia 4 serão exibidos (veja destaques da programação ao lado) em São Paulo todos os 21 longas dirigidos por Ray entre 1948 e 1963, além de um episódio de uma série de TV e de "Um Filme para Nick" (1980), diário de seus últimos dias codirigido por ele e Wim Wenders.
A sessão mais importante do ponto de vista do ineditismo acontece hoje, às 17h, com a exibição da versão restaurada de "We Can't Go Home Again" (2011) -lançada mundialmente em setembro no Festival de Veneza-, seguida de um seminário com Susan Ray, viúva e colaboradora do diretor.
"We Can't Go Home Again" é um projeto coletivo conduzido por Ray junto a estudantes de cinema que ele formou no início dos anos 70, depois de uma década sem filmar.
Nesse trabalho pioneiro, de 1976, a sobreposição de múltiplos suportes e o hibridismo entre ficção e documentário são exemplos de uma inventividade que prefigura procedimentos tidos como novidade no audiovisual contemporâneo.
Já o cinema realizado por Ray em Hollywood entre 1948 e 1963 carrega uma radicalidade pessoal no modo de ver e narrar o lado B do sonho americano. Enquanto os EUA mergulhavam no idílio cor-de-rosa da sociedade de consumo que se concretiza nos anos 50, seus filmes focalizam os efeitos colaterais de tanta felicidade.
Marginais e desajustados, indivíduos bem-sucedidos e enquadrados que um abalo lança fora da ordem, jovens que não conseguem identificar um futuro adulto sem se trair ou se sacrificar em mortes trágicas ou precoces são figuras centrais do retrato intimamente pessimista construído pelo diretor.
Entre eles, "Juventude Transviada" (1955), elegia à rebeldia adolescente que, apesar de ser o mais célebre, não é seu filme mais intenso nem o mais subversivo.
Essa visão de mundo envenenada, ao entrar em simbiose com o ilusionismo hollywoodiano, produziu uma série de histórias anômalas, em que o perfeccionismo formal torna ainda mais profundo o amargor.
Ray não demorou a ser excluído do mundo dos sonhos. Mas seu cinema do contra fertilizou o que estava por vir nas carreiras de Martin Scorsese, Clint Eastwood, Jim Jarmusch e Gus Van Sant.

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