São Paulo, terça-feira, 01 de abril de 2008

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Crítica/cinema/"Jumper"

Aventura teen limitada parece um comercial de cartão de crédito

Com diálogos pobres e personagens opacos, "Jumper" mostra adolescente que adquire o dom do teletransporte

Divulgação
Hayden Christensen em "Jumper', de Doug Liman (de "A Identidade Bourne' e "Sr. e Sra. Smith')

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

A partir de uma motivação acima de tudo mercadológica, a indústria cinematográfica de Hollywood desenvolveu uma obsessão doentia pelo público adolescente e jovem. O filme "Jumper" talvez seja o exemplo mais cristalino do esgotamento total de temas e fórmulas já explorados à exaustão por um sistema produtivo que se caracteriza como viciado e redundante.
Quando "Jumper" começa, David Rice é o sofredor estudante de uma "high school" -e aqui, mais uma vez, a escola norte-americana é representada como uma espécie de inferno na terra. Ao passar por um grave acidente, ele descobre ter o dom do teletransporte. É a concretização de uma fantasia de videogame: corpos vaporizados, fluidos, capazes de enganar o espaço e, como diz o protagonista, viver a vida "pulando as partes chatas".
David cresce e se transforma em Hayden Christensen (o jovem Darth Vader de George Lucas), que utiliza seus poderes para visitar cofres de bancos e sustentar algumas de suas extravagâncias. Entre elas, um lanchinho no topo de uma esfinge egípcia, a prática do surfe na Austrália ou até mesmo um passeio no coliseu com a namoradinha de infância. A vida boa, porém, é fugaz:
David logo começa a ser violentamente perseguido por um "paladino" (interpretado pelo ator Samuel L. Jackson), soldado do exército de exterminadores de "jumpers".
A opacidade dos personagens e a influência do videogame e da publicidade não seriam problemas em si. O diretor McG já mostrou, em "As Panteras" (2000) e "As Panteras Detonando" (2003), ambos protagonizados por Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu, que esses elementos podem perfeitamente produzir uma obra divertida e original que, por sua vez, desobedece todas as regras da narrativa cinematográfica clássica.
Mas não é o caso de "Jumper". Doug Liman (dos hits "A Identidade Bourne", 2002, e "Sr. e Sra. Smith", 2005), típico diretor-burocrata a serviço de corporações, realizou um trabalho limitado, que mais parece um longo comercial de cartão de crédito, forrado com os diálogos mais pobres dos últimos tempos.
Ironicamente, Liman fabrica aquilo que o protagonista de "Jumper" tanto quer evitar: ou seja, uma parte chata da vida, sem que o espectador tenha a chance de recorrer ao teletransporte.


JUMPER
Produção: EUA, 2008
Direção: Doug Liman
Com: Hayden Christensen, Samuel L. Jackson e Diane Lane
Onde: Frei Caneca Unibanco Arteplex, Eldorado, Metrô Santa Cruz, Paulista e circuito
Avaliação: ruim



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