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Crítica/erudito/Pablo Rossi
Jovem abusa do equilíbrio ao inaugurar piano Steinway
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Em 2002, com apenas 12
anos de idade, ele foi a
estrela de uma histórica "masterclass" do pianista
Stephen Kovacevich, na Sala
São Paulo. Agora, com 19 e uma
considerável lista de realizações nas costas, Pablo Rossi estuda no Conservatório Tchaikovsky, em Moscou. Veio a São
Paulo inaugurar, anteontem, o
novo Steinway do teatro Cultura Artística.
Continua com o mesmo jeito
de menino travesso, entra e sai
do palco gingando com uma
passada característica; mas se
esforça para sorrir pouco e
manter a expressão de adulto.
Não era essa a intenção, mas a
frase anterior pode ser lida como metáfora do seu modo de
fazer música, hoje.
"Uma das coisas mais fortes
no jeito de você tocar é também
o que enfraquece um pouco o
resultado: sua habilidade para
tocar tudo com equilíbrio.
Equilíbrio demais." Era isso o
que lhe dizia Kovacevich há
seis anos. E o conselho não perdeu a pertinência: tanto na "Sonata nº 1" de Beethoven (1770-1827) quanto nas "Fantasiestücke" de Schumann (1810-56),
e nos "Estudos op. 10" de Chopin (1810-49), Rossi mostrou
habilidade, empenho, equilíbrio; mas será que não ficou devendo imaginação?
Tudo parecia controlado,
num registro médio. Vale repetir Kovacevich: "É preciso estar
sempre em guarda para não ser
convencional na arte. Na vida,
às vezes, isso é inevitável. Mas
na arte não pode ser". Aqui e ali,
era como se o jovem pianista
catarinense desse mostras,
mesmo, de outra música, presa
dentro do que se ouviu. No "Estudo op. 10/1", por exemplo, paradoxalmente a única peça do
programa inteiro em que ele tocou várias notas erradas, o que
não tem maior importância.
Ou também em passagens do
"Andante Spianato e Grande
Polonaise Brilhante", de Chopin, onde rendas delicadíssimas de notas se deixam romper
pelos afetos. É verdade que era
seu primeiro recital desse porte
aqui, num palco nobre, e na
frente de seus generosos patronos, a família Baumgart, que
também doou o novo piano.
(Duas ações muito bonitas;
nem tão bonito foi terem estampado os próprios nomes em
letras douradas, na lateral do
Steinway, em exibição permanente à platéia.)
A questão é que arrojo, na arte, não pode depender de circunstância. Pablo Rossi tem talento demais para continuar
tocando como se isso fosse o
mais importante.
O mais importante, na música, não é tocar; o mais importante é dizer. De um artista como ele, pelo menos, é isso o que
se quer ouvir.
Avaliação: regular
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