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FÓRUM CULTURAL MUNDIAL
Com o documentário "Estrangeiras", cineasta discute o cotidiano de 30 mulheres em Madri
Diretora basca aborda imigração na Espanha
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A cineasta basca Helena Taberna participa amanhã, na sala B, do
debate "Minorias e Suas Culturas
- Direitos Humanos e Riquezas
Humanas", uma das séries de atividades associadas à Convenção
Global no Fórum Cultural Mundial, que ocorrem no intervalo das
principais conferências, entre 11h
e 13h, ou no fim da tarde, das
16h30 às 18h30, no Anhembi.
Taberna diz que não é especialista na maioria dos temas do fórum, no entanto, sua recente produção, o documentário "Estrangeiras", toca nos assuntos da conferência de forma concreta, a partir do cotidiano de 30 mulheres
imigrantes moradoras de Madri.
E seu filme, inédito no Brasil, será
exibido no Cinesesc domingo.
"Como cineasta, sou como uma
curiosa das coisas que ocorrem
no mundo, das atualidades. Minha filmografia vai se apossando
disso e quando vejo são temas que
muito têm a ver com os direitos
humanos, com os respeitos às minorias", afirma.
Antes de "Estrangeiras", Taberna invadiu um território delicado:
o ETA. O longa-metragem ficcional "Yoyes" (2000) conta a história da primeira mulher que foi dirigente no ETA e que morreu assassinada pelos próprios companheiros, quando passeava com
seu filho na rua. "Eles consideraram a saída dela como uma traição, mas nunca foi. Ela jamais relatou algo à polícia", diz ela.
"Sua morte provocou muitas
discussões, e sua vida se tornou
muito cinematográfica. Só pude
chegar realmente à questão do
respeito às minorias, como em
"Estrangeiras", após "Yoyes'; ao
contar uma boa história sobre
uma mulher, falei da morte, esse
elemento mais abstrato e visual
para o cinema, e tão presente no
ETA." O filme, segundo ela, foi recusado pelas salas de cinema durante uma semana, que abriram
as portas após a aceitação da imprensa. Ele ficou em cartaz por
cerca de três meses e meio.
Taberna crê no fim do ETA.
"Tenho a esperança de que o atual
governo socialista, na Espanha,
terá mais sensibilidade para encerrar alguns capítulos da história", opina. "O País Basco tem essa faceta muito particular de pertencer a dois Estados distintos, a
Espanha e a França, com suas políticas culturais que incidem sobre
a cultura basca. E as questões não
são apenas os problemas e as conseqüências de uma oposição violenta, como foi a do ETA em alguns casos, mas também passam
pelo modo de ação de um governo, como o francês, que é muito
menos respeitoso com as minorias, do que, por exemplo, o espanhol. O governo francês é centralizador, e isso afeta o modo de encarar as culturas."
Isso também ocorria antes,
quando o governo era de esquerda? "Sempre, esquerda ou direita", afirma. "Sempre que há a falta
de respeito às minorias, aos imigrantes, à língua, quando uns julgam sua cultura muito mais importante do que as demais, tudo
isso ajuda a sustentar as bases para a injustiça, para o racismo. E
para os quais creio que o ser humano deve estar refletindo sempre", disse.
Se "Yoyes" é "uma história muito potente", "Estrangeiras" é o inverso, como ela define. "A experiência de antes, da boa história,
me ajudou agora a contar pequenas narrativas de mulheres asiáticas, africanas, do Leste Europeu e
ibero-americanas, sem, no entanto, eleger os aspectos mais espetaculares da imigração, como delinqüência e a prostituição", fala.
"Tenho medo, sempre, de um
tom militante, porque o discurso
pré-concebido faz a arte se perder. Um filme é sempre político,
mas pode ser carregado de humanidade."
Ela acredita, nesse sentido, que
a condição de mulher basca, que,
por exemplo, durante a ditadura
de Franco, não podia falar sua língua, permitiu o recorte sutil do filme. "Mostrar como é a adaptação
em outra cultura creio que foi
uma de minhas funções. E é um
pouco o que vivi em parte de minha vida, entre Madri e meu
país."
(JANAÍNA ROCHA)
ESTRANGEIRAS. Onde: Cinesesc (r.
Augusta, 2.075, tel. 3082-0213). Quando:
4/7, às 10h30. Quanto: R$ 4.
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