São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2010

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Artistas exploram natureza consumida

Mostra no MAM tem plantas, galhos e ervas daninhas numa reflexão sobre ecologia sujeita à lógica capitalista

Exposição reúne obras de Marcelo Cidade, Paulo Bruscky, entre outros, e dos coletivos Superflex e Opavivará

Divulgação
Fotografia do artista Rodrigo Braga, ideia de fusão entre vida humana e vida animal, que estará na mostra do MAM

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Um jardineiro vai ficar de plantão no Museu de Arte Moderna. É que algumas obras precisam ser regadas e dependem de luz natural.
Parece, de fato, que a paisagem do Ibirapuera invadiu o lado de dentro do MAM, com galhos e flores que se alastram por toda parte.
Na mostra que começa hoje, artistas olham para a natureza. Plantam ervas daninhas, usam pétalas de flor e resgatam restos de madeira.
Refletem o surrado discurso sobre sustentabilidade, mas refutam noções de uma natureza ideal, equilibrada.
Mesmo o jardineiro é uma obra. Contratado pelo artista Paulo Bruscky, seu trabalho será uma espécie de performance. Vai controlar as ervas daninhas nas obras, mantendo o equilíbrio tosco dessa natureza nada selvagem.
Lado a lado, obras de Rodrigo Matheus e Marcius Galan descartam o discurso ecológico e inserem a natureza numa lógica de consumo, a tônica dessa exposição.
Enquanto Matheus transforma uma praia em quadros sobre cavaletes, a natureza como destino turístico, Galan recria ilhas de tráfego urbano invadidas por ervas daninhas, a flora indesejada e fetichizada da metrópole, eco da especulação imobiliária.
Um jardim colorido, e fake, de André Feliciano, esboça uma profusão de flores. Mas, de perto, seus lírios e rosas são pequenas câmeras fotográficas de plástico, que devolvem o olhar para quem consome essa natureza.
Gabriela Albergaria, também nessa pegada consumista, mapeia as espécies plantadas no parque Trianon e enumera os usos comerciais de cada tipo de madeira. E faz isso com desenhos em placas de nada menos que madeira.

CACHAÇA E MCDONALD'S
Num alambique feito de entulho, até com restos da marquise do MAM, Marcelo Cidade espreme o bagaço dessa natureza sacrificada para encher uma piscina de cachaça. Dá verniz etílico à ideia de abuso e exploração.
Esse cheiro de pinga encontra eco sonoro na trilha de um filme do coletivo Superflex, em que os artistas dinamarqueses inundam uma maquete do McDonald's.
Cadeiras de praia, essas com três lugares em vez de um, estarão espalhadas pelo espaço expositivo para a contemplação da catástrofe ecológica. É a invenção do coletivo Opavivará para forçar a convivência entre estranhos.
Em tempos de paisagens ultrajadas, longe das paragens idílicas dos românticos e da simetria forçada dos jardins, alguns artistas acreditam que a união faz a força.


ECOLÓGICA

QUANDO abertura hoje, às 20h; ter. a dom., 10h às 17h30; até 29/8
ONDE MAM (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 5085-1300)
QUANTO R$ 5,50



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