São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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"O MAPA DO AGORA"

Mostra em cartaz no Instituto Tomie Ohtake apresenta produção nacional desde o pós-guerra

Exposição aborda arte de modo simplista

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"O Mapa do Agora" apresenta a arte brasileira desde o pós-guerra de modo simplista. Seleciona peças de importância desigual para propor uma sequência que vai da I Bienal de São Paulo até 2002.
A coleção João Sattamini é base da pesquisa curatorial. Está hoje abrigada no Museu de Arte Contemporânea de Niterói e inclui autores conhecidos.
Contudo os critérios de relevância adotados são obscuros. Enquanto o segmento dedicado à abstração conta com obras de interesse, o núcleo contemporâneo aposta em nomes famosos representados por produções menores.
"Heranças Modernistas e Emergência da Abstração" abre a mostra defendendo ponto de vista consagrado sobre a origem da arte contemporânea nacional. Segundo tal versão evolucionista, a Bienal de São Paulo de 1951 permitiu avaliar "qual grau de modernidade o Brasil realmente lograra alcançar e, com isso, quais limites e possibilidades se mostravam disponíveis".
A abstração é apresentada como resposta inicial às disponibilidades estéticas brasileiras. Divide-se em informal e geométrica.
O informalismo agrupa obras elucidativas. A exploração dos materiais pictóricos é representada pelos grossos borrões de marrons e pretos na "Forma Rompida" (1964), de Iberê Camargo.
Os geométricos enfileiram-se em diálogo harmônico. A única dissonância é Maria Leontina: "Da Paisagem e do Tempo" (1960) não nos deixa esquecer de que o período foi marcado pela disputa entre figurativos e abstratos, apesar do tom hegemônico adotado pela curadoria.
"Experimentalismo" tematiza a superação das mídias tradicionais da arte, como o quadro de cavalete, a partir dos anos 60.
A oposição política ao regime militar seleciona pesquisas de impacto na época. Entre os mais engajados, vemos a instalação "Repressão Outra Vez: Eis o Saldo" (1968), de Antônio Manuel, e a "Trouxa Ensanguentada" (1969), de Artur Barrio.
Entretanto não se menciona nos textos explicativos a importância do surrealismo. O período entre as décadas de 60 e 70 é descrito apenas em termos da aliança entre as heranças da abstração, do pop e do conceitual. Mas a presença da psicanálise emerge para o espectador mais atento em "Suponhamos que o Inconsciente Seja uma Auto Clave" (1966), de Wesley Duke Lee, e no "Você!" (1972), de Farnese de Andrade.
"Novos Debates" fecham a mostra em declive. A coleção Sattamini parece empobrecer na parte dedicada à contemporaneidade. As obras de Beatriz Milhazes, Ernesto Neto e Tunga mal deixam suspeitar o potencial artístico dos representados.
A pintura é privilegiada nesse último segmento. O debate acerca dos novos rumos da mídia é tematizado pela aproximação entre Leda Catunda, Leonilson, Nuno Ramos e Paulo Monteiro.


O Mapa do Agora
  
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201, Pinheiros, tel. 6844-1900) Quando: de ter. a dom.: das 11h às 20h; até 3/11 Quanto: entrada franca
Patrocinador: Petrobras



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