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Crítica/"À Margem do Concreto"
Mocarzel avança no campo da desmistificação
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Sob o império da moda e
da mídia, a imagem se
consolidou como um
passaporte para a existência.
Sem uma imagem marcante, alguém, mesmo que exista, pague
seus impostos e seja um cidadão, está condenado a ser confundido com ninguém. Atento
a essa transformação hoje macroscópica dos valores, o cineasta Evaldo Mocarzel deu
início, com "À Margem da Imagem", em 2001, a um conjunto
de retratos de grupos sociais
em posição de excluídos.
Segunda parte desse projeto,
"À Margem do Concreto" focaliza idéias e ideais dos integrantes do MSTC (Movimento
Sem-Teto do Centro).
Como no primeiro documentário da série, o trabalho evita
os riscos do paternalismo. Não
se trata de constituir de fora
uma visão dos excluídos, mas
de usar a câmera para auscultar
o que as representações públicas escondem ou mascaram.
Trata-se de um subterfúgio
bem urdido por um diretor que,
além de documentarista, carrega uma experiência como jornalista. Ciente das regras da representação nos dois lados desse front, Mocarzel parte em
busca de seu objeto e opta por
dar voz a ele, em vez de lhe impor um discurso. Nesse sentido, seus trabalhos avançam a
passos claros no território da
desmistificação, em vez de se
posicionar no campo confortável da contra-ideologia.
O que o diretor busca é estimular as falas, estar atento às
situações reveladoras, captá-las e, após o processo de seleção
na montagem, deixar nossos
olhos terem acesso a esse esforço de auto-representação, que
nunca surge límpido e coerente, mas sempre problemático.
Como jornalista, Mocarzel
conhece os limites dos ideais de
objetividade e, quando se desveste dessa personalidade para
assumir a de documentarista,
torna evidente que os fatos,
mesmo quando narrados de
acordo com as regras da imparcialidade jornalística, nunca escapam a seu status de representações.
Em vez de adotar o panfletarismo contra o império da imagem, o que o trabalho de Mocarzel traduz é a ascensão dos
invisíveis ao território do visível, o que não deixa de ser também uma bela idéia de cinema.
À MARGEM DO CONCRETO
Direção: Evaldo Mocarzel
Produção: Brasil, 2006
Quando: em cartaz no Frei Caneca Unibanco Arteplex 7
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