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Crítica/artes plásticas
MAC discute o outro na arte moderna
Dividida em seis módulos, "Arte Antropologia" reúne acervo do museu com obras da coleção de Edemar Cid Ferreira
Fotos Divulgação
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"Perfil de Zulmira", de 1928, de Lasar Segall, que está em "Arte Antropologia", no MAC-USP |
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde que recebeu da
Justiça Federal a coleção de arte contemporânea do banqueiro falido Edemar Cid Ferreira, em dezembro de 2005, o Museu de Arte
Contemporânea da USP
(MAC-USP) devia à cidade uma
mostra que desse conta desse
acervo. Afinal a intenção do juiz
que determinou a cessão das
obras buscou justamente tornar pública uma coleção que
poderia se esfacelar.
"Arte Antropologia", em cartaz até 19 de agosto no espaço
da USP, aponta que a demora
pode ter ocorrido para preservar o próprio museu, ou seja,
não exibir a nova coleção de
forma estranha ao acervo do
próprio MAC.
Isso porque a nova exposição
consegue reunir os dois acervos
de forma complementar, por
meio de uma discussão pertinente aos dois agrupamentos
-o moderno e conceitual do
MAC com as fotografias do ex-banqueiro.
O outro
A exposição, com curadoria
de Cristina Freire e Helouise
Costa, aponta caminhos distintos que a arte usou e usa para
abordar o outro, da mesma forma como a antropologia tem
como objeto o estudo da alteridade. Estruturada em seis módulos, a mostra tem início com
a discussão sobre identidade
nacional, proposta por modernistas, como em "A Negra", de
Tarsila do Amaral, marco central desse debate.
Ainda dentro do debate moderno, uma das revelações da
exposição é "Experiência nš 4",
de Flávio de Carvalho (1899-1973), uma "jornada etnológica
e artística" ao rio Negro, realizada em 1958, ação praticamente desconhecida.
Segundo o próprio artista,
em texto na exposição, um dos
objetivos da exposição era "estudar a pintura do corpo dos indígenas para constatar vestígios de antigas e esquecidas indumentárias". A expedição é
retratada por 44 fotografias de
Raymond Frajmund.
Na mesma sala, estão exibidos os guaches do artista para o
balé "A Cangaceira", de 1953.
Já no módulo "A Fotografia
como Representação", é a vez
de uma revisão da produção
contemporânea que aborda alteridades, seja no caso do brasileiro Mario Cravo Neto, seja
nas imagens do Quênia da dupla Carol Beckwith e Ângela
Fisher.
Finalmente, três módulos da
exposição são dedicados aos experimentos artísticos dos anos
70, quando o artista passa não
só a provocar o outro -como
no caso da série "Testarte"-,
como ele próprio passa a ser
objeto de experiências -como
nas três ações de Artur Barrio
apresentadas na mostra.
Curadoria forte
Ao reunir acervos distintos
em um eixo curatorial forte, o
MAC sinaliza que, mesmo em
meio à pasmaceira que atravessa há alguns anos, tem condições de retomar sua função de
museu.
Com a futura nova sede, a ser
instalada no prédio do Detran,
no Ibirapuera, espera-se que o
uso do acervo de modo perspicaz seja constante, e não mais
apenas uma exceção.
ARTE ANTROPOLOGIA
Onde: Museu de Arte Contemporânea
da USP (r. da Reitoria, 160, Cidade Universitária, USP, tel. 3091-3039)
Quando: de terça a sexta, das 10h às
18h; sábados e domingos, das 10h às
16h; até 19 de agosto
Quanto: entrada franca
Avaliação: bom
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