São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2007

Índice

Crítica/artes plásticas

MAC discute o outro na arte moderna

Dividida em seis módulos, "Arte Antropologia" reúne acervo do museu com obras da coleção de Edemar Cid Ferreira

Fotos Divulgação
"Perfil de Zulmira", de 1928, de Lasar Segall, que está em "Arte Antropologia", no MAC-USP


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde que recebeu da Justiça Federal a coleção de arte contemporânea do banqueiro falido Edemar Cid Ferreira, em dezembro de 2005, o Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP) devia à cidade uma mostra que desse conta desse acervo. Afinal a intenção do juiz que determinou a cessão das obras buscou justamente tornar pública uma coleção que poderia se esfacelar.
"Arte Antropologia", em cartaz até 19 de agosto no espaço da USP, aponta que a demora pode ter ocorrido para preservar o próprio museu, ou seja, não exibir a nova coleção de forma estranha ao acervo do próprio MAC.
Isso porque a nova exposição consegue reunir os dois acervos de forma complementar, por meio de uma discussão pertinente aos dois agrupamentos -o moderno e conceitual do MAC com as fotografias do ex-banqueiro.

O outro
A exposição, com curadoria de Cristina Freire e Helouise Costa, aponta caminhos distintos que a arte usou e usa para abordar o outro, da mesma forma como a antropologia tem como objeto o estudo da alteridade. Estruturada em seis módulos, a mostra tem início com a discussão sobre identidade nacional, proposta por modernistas, como em "A Negra", de Tarsila do Amaral, marco central desse debate.
Ainda dentro do debate moderno, uma das revelações da exposição é "Experiência nš 4", de Flávio de Carvalho (1899-1973), uma "jornada etnológica e artística" ao rio Negro, realizada em 1958, ação praticamente desconhecida.
Segundo o próprio artista, em texto na exposição, um dos objetivos da exposição era "estudar a pintura do corpo dos indígenas para constatar vestígios de antigas e esquecidas indumentárias". A expedição é retratada por 44 fotografias de Raymond Frajmund.
Na mesma sala, estão exibidos os guaches do artista para o balé "A Cangaceira", de 1953.
Já no módulo "A Fotografia como Representação", é a vez de uma revisão da produção contemporânea que aborda alteridades, seja no caso do brasileiro Mario Cravo Neto, seja nas imagens do Quênia da dupla Carol Beckwith e Ângela Fisher.
Finalmente, três módulos da exposição são dedicados aos experimentos artísticos dos anos 70, quando o artista passa não só a provocar o outro -como no caso da série "Testarte"-, como ele próprio passa a ser objeto de experiências -como nas três ações de Artur Barrio apresentadas na mostra.

Curadoria forte
Ao reunir acervos distintos em um eixo curatorial forte, o MAC sinaliza que, mesmo em meio à pasmaceira que atravessa há alguns anos, tem condições de retomar sua função de museu.
Com a futura nova sede, a ser instalada no prédio do Detran, no Ibirapuera, espera-se que o uso do acervo de modo perspicaz seja constante, e não mais apenas uma exceção.

ARTE ANTROPOLOGIA


Onde: Museu de Arte Contemporânea da USP (r. da Reitoria, 160, Cidade Universitária, USP, tel. 3091-3039)
Quando: de terça a sexta, das 10h às 18h; sábados e domingos, das 10h às 16h; até 19 de agosto
Quanto: entrada franca
Avaliação: bom



Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.