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SHOW
Banda inglesa toca hoje no Ruffles Reggae 99, juntamente com Nativus, Cidade Negra e Israel Vibration
UB40 prega o retorno do "verão da lata"
BRUNO GARCEZ
da "Revista da Hora"
A segunda vinda do grupo inglês de reggae UB40 ao Brasil traz
ao vocalista do grupo, Ali Campbell, 40, recordações peculiares.
Na primeira visita, em 88, o grupo chegou ao país na mesma época em que um carregamento de
maconha acidentalmente era despejado nas praias do Rio. "Foi
uma promoção involuntária para
a banda", disse Ali Campbell em
entrevista à Folha, por telefone.
O UB40 é o destaque do Ruffles
Reggae 99, que acontece hoje em
São Paulo e contará ainda com a
participação dos brasileiros Cidade Negra e Nativus e os jamaicanos do Israel Vibration.
A seguir, Campbell fala a respeito da influência do reggae sobre a
moderna música eletrônica inglesa e comenta os projetos que desenvolve com e sem o UB40.
Folha - O grupo começou, em
79, juntamente com as bandas
two-tone (que tocavam ska e
eram formadas por brancos e
negros) e é um dos únicos sobreviventes dessa época. Qual o
segredo da longevidade?
Ali Campbell - Não há segredo.
Nossa carreira foi auxiliada pelo
movimento two-tone, mas éramos diferentes deles, que tocavam ska, enquanto nós sempre fizemos reggae. Nada contra, mas
Selecter, Specials e Bad Manners
faziam ska porque era o som da
moda. Nós sempre fomos originais. Nos conhecemos aos 11 anos
de idade e até hoje a banda possui
a mesma formação.
Folha - O UB40 começou experimental, mas ruma cada vez
mais para o pop. Foi uma evolução ou uma opção comercial?
Campbell - Pop significa popular. Já vendemos 40 milhões de
discos, o que faz do UB40 a banda
de reggae mais popular do mundo. Somos os mais bem-sucedidos do ramo. Na Jamaica, todos
nos adoram. Só quem nos acha
pop no sentido pejorativo são jornalistas brancos de classe média.
Folha - Vocês costumam prestar tributo aos medalhões gravando versões de clássicos do
reggae. O que pensa a respeito
do reggae moderno, como o
dancehall jamaicano?
Campbell - Adoro dancehall.
Dos novos, gosto de Buju Banton
e Lady Saw. Moro na Jamaica há
seis anos. Lá, tenho uma gravadora, a Oracabessa (nome da cidade,
no litoral norte da Jamaica, onde
Campbell reside), que tem produzido artistas locais. Criamos até
um novo estilo, o speedhall, que é
a mistura do speed garage inglês
com o dancehall jamaicano. As
coisas mais influentes da música
atual são fruto de ritmos eletrônicos, como o drum and bass.
Folha - Muitos músicos de reggae reivindicam para si a criação do drum'n'bass...
Campbell - É claro. O
drum'n'bass e outros estilos modernos beberam na fonte do reggae. Esses gêneros são todos uma
forma de dub (técnica, própria do
reggae, que usa efeitos viajantes e
realça o som do baixo e da bateria). O Police, por exemplo, nunca
foi uma banda de reggae, como
diziam na época, mas sim um
grupo de rock que usava dub. Não
fosse por Aston e Carlton Barret
(baixista e baterista que tocaram
com Bob Marley), não teríamos
drum'n'bass ou jungle.
Folha - Da última vez que o
UB40 veio ao Brasil, no verão de
88, um navio havia acabado de
derramar inúmeras latas cheias
de maconha no litoral do Rio...
Campbell - "The lata". Foi uma
de nossas melhores turnês. Acabou servindo como promoção
para a banda. Me deram uma lata
de tomate cheia de folhas de chá
que eu levei para o palco. Agora,
assim que chegamos ao Rio, vimos um show de fogos de artifício
no céu. Perguntamos do que se
tratava e o motorista de táxi nos
disse que era um aviso de que as
drogas haviam chegado à cidade.
Foi uma feliz coincidência, porque somos pró-legalização.
Folha - Quais são os atuais
projetos do UB40?
Campbell - Estamos gravando
um disco que trará versões de
músicas do UB40 cantadas por
lendas do reggae, como Toots (do
grupo Toots & The Maytals) e
Ken Boothe. Será o inverso do que
fizemos em "Labour of Love", em
que cantávamos versões dos clássicos. Também participamos de
um disco-tributo ao The Doors,
em que interpretamos "Light my
Fire" (Acenda meu Fogo), música
que tem tudo a ver conosco.
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