São Paulo, Sábado, 02 de Outubro de 1999
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SHOW

Banda inglesa toca hoje no Ruffles Reggae 99, juntamente com Nativus, Cidade Negra e Israel Vibration

UB40 prega o retorno do "verão da lata"

BRUNO GARCEZ
da "Revista da Hora"



A segunda vinda do grupo inglês de reggae UB40 ao Brasil traz ao vocalista do grupo, Ali Campbell, 40, recordações peculiares.
Na primeira visita, em 88, o grupo chegou ao país na mesma época em que um carregamento de maconha acidentalmente era despejado nas praias do Rio. "Foi uma promoção involuntária para a banda", disse Ali Campbell em entrevista à Folha, por telefone.
O UB40 é o destaque do Ruffles Reggae 99, que acontece hoje em São Paulo e contará ainda com a participação dos brasileiros Cidade Negra e Nativus e os jamaicanos do Israel Vibration.
A seguir, Campbell fala a respeito da influência do reggae sobre a moderna música eletrônica inglesa e comenta os projetos que desenvolve com e sem o UB40.

Folha - O grupo começou, em 79, juntamente com as bandas two-tone (que tocavam ska e eram formadas por brancos e negros) e é um dos únicos sobreviventes dessa época. Qual o segredo da longevidade?
Ali Campbell -
Não há segredo. Nossa carreira foi auxiliada pelo movimento two-tone, mas éramos diferentes deles, que tocavam ska, enquanto nós sempre fizemos reggae. Nada contra, mas Selecter, Specials e Bad Manners faziam ska porque era o som da moda. Nós sempre fomos originais. Nos conhecemos aos 11 anos de idade e até hoje a banda possui a mesma formação.

Folha - O UB40 começou experimental, mas ruma cada vez mais para o pop. Foi uma evolução ou uma opção comercial?
Campbell -
Pop significa popular. Já vendemos 40 milhões de discos, o que faz do UB40 a banda de reggae mais popular do mundo. Somos os mais bem-sucedidos do ramo. Na Jamaica, todos nos adoram. Só quem nos acha pop no sentido pejorativo são jornalistas brancos de classe média.

Folha - Vocês costumam prestar tributo aos medalhões gravando versões de clássicos do reggae. O que pensa a respeito do reggae moderno, como o dancehall jamaicano?
Campbell -
Adoro dancehall. Dos novos, gosto de Buju Banton e Lady Saw. Moro na Jamaica há seis anos. Lá, tenho uma gravadora, a Oracabessa (nome da cidade, no litoral norte da Jamaica, onde Campbell reside), que tem produzido artistas locais. Criamos até um novo estilo, o speedhall, que é a mistura do speed garage inglês com o dancehall jamaicano. As coisas mais influentes da música atual são fruto de ritmos eletrônicos, como o drum and bass.

Folha - Muitos músicos de reggae reivindicam para si a criação do drum'n'bass...
Campbell -
É claro. O drum'n'bass e outros estilos modernos beberam na fonte do reggae. Esses gêneros são todos uma forma de dub (técnica, própria do reggae, que usa efeitos viajantes e realça o som do baixo e da bateria). O Police, por exemplo, nunca foi uma banda de reggae, como diziam na época, mas sim um grupo de rock que usava dub. Não fosse por Aston e Carlton Barret (baixista e baterista que tocaram com Bob Marley), não teríamos drum'n'bass ou jungle.

Folha - Da última vez que o UB40 veio ao Brasil, no verão de 88, um navio havia acabado de derramar inúmeras latas cheias de maconha no litoral do Rio...
Campbell -
"The lata". Foi uma de nossas melhores turnês. Acabou servindo como promoção para a banda. Me deram uma lata de tomate cheia de folhas de chá que eu levei para o palco. Agora, assim que chegamos ao Rio, vimos um show de fogos de artifício no céu. Perguntamos do que se tratava e o motorista de táxi nos disse que era um aviso de que as drogas haviam chegado à cidade. Foi uma feliz coincidência, porque somos pró-legalização.

Folha - Quais são os atuais projetos do UB40?
Campbell -
Estamos gravando um disco que trará versões de músicas do UB40 cantadas por lendas do reggae, como Toots (do grupo Toots & The Maytals) e Ken Boothe. Será o inverso do que fizemos em "Labour of Love", em que cantávamos versões dos clássicos. Também participamos de um disco-tributo ao The Doors, em que interpretamos "Light my Fire" (Acenda meu Fogo), música que tem tudo a ver conosco.


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