São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2000

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MÚSICA
Repertório inclui trilha de novela, pop italiano e hits radiofônicos
Maurício Pereira faz show de resistência

Vania Delpoio/Folha Imagem
Maurício Pereira, que traz repertório de canções populares, trilhas de novelas e versões de hits do rádio em shows no Supremo


SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA

Nos anos 80, quando ainda integrava o experimental Mulheres Negras, ao lado de André Abujamra, Maurício Pereira ouviu um conselho do pai do colega, o diretor de teatro Antonio Abujamra: "Vocês precisam ouvir os clássicos". Pereira ficou com aquilo na cabeça e, a partir daí, só fez alimentar sua paixão pela música popularesca, muitas vezes mergulhando em um repertório considerado brega pelos puristas.
Um pouco daquilo que construiu a formação musical do cantor está no show que reaparece hoje no Supremo.
Nele, Pereira conta histórias (como a descrita acima), faz pequenas encenações e desfila um repertório que inclui pop italiano, trilha de novela, versões, hits radiofônicos. Leia trechos da entrevista que o artista deu à Folha.

Folha - Certa vez, você disse que seu trabalho como artista independente era uma "guerrilha poética". Qual é o papel do "guerrilheiro"?
Maurício Pereira -
Um deles é o de resistir. À pressa, à falta de sabor, de emoção, de risco e de alegria que a vida corrida e alienada possam impor à arte. Resistir à padronização, à dificuldade de divulgar e vender o trabalho, que são coisas que o mercado, subornado pelo jabá, traz. Por outro lado, acho que, mesmo metido numa trincheira, é preciso alegrar.
Tenho duas citações: Che Guevara ("Hay que endurecer sin perder la ternura") e Paulinho da Viola ("Faça como um velho marinheiro, que durante o nevoeiro toca o barco devagar").

Folha - Quais os artistas que você mais gostou de ouvir no passado?
Pereira -
Eu fui criado ouvindo rádio. Boleros, música caipira, cantores populares. A jovem guarda foi uma influência, amo o Erasmo. Muita música italiana dos anos 60, como Gianni Morandi e Beatles. Assistia aos festivais da Record, "O Fino da Bossa", o programa do Chacrinha. Caetano e Gil foram importantes. Raul aos montes. E música negra, funk, reggae, soul. E tem coisas que a gente odeia, mas se pega cantando (no chuveiro, claro) sem querer. Eu sou apaixonado pela canção popular simples e direta.

Folha - Quais são as fronteiras da qualidade na música popular?
Pereira -
Para mim não existe brega, existe a canção popular e ponto final. O que gera lixo é esse esquema de jabá (dinheiro pago por gravadoras para executar músicas no rádio).

Folha - Mas o que é brega e o que é sofisticado?
Pereira -
Brega é tudo o que tem o dedo de executivo de gravadora, mais do que o do próprio artista. Há muita coisa sofisticada. Tem a poesia dos Racionais. Tem a evolução dos artistas brasileiros na produção de discos. Tem a cena independente em São Paulo, tem o pagode abrindo caminho para o Jorge Aragão estourar, tem as misturas de folclore com pop, tem nossos DJs quebrando tudo...

Folha - Qual sua opinião sobre o pop italiano, que você inclui no repertório dos seus shows?
Pereira -
Ouvi muito nos anos 60. Achava original, era a antropofagia italiana (existe isso?) do rock, criando levadas, texturas, maneiras de cantar o pop. A cultura italiana é rica, matreira, tem muito a ver com um pedaço de São Paulo no qual eu me incluo.


Show: Maurício Pereira
Quando: estréia hoje, às 22h; às segundas, às 22h (até 30/10)
Onde: Supremo Musical (r. Oscar Freire, 1.000, Jardim Paulista, tel. 852-0950)
Quanto: R$ 10


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