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MÚSICA
Repertório inclui trilha de novela, pop italiano e hits radiofônicos
Maurício Pereira faz show de resistência
Vania Delpoio/Folha Imagem
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Maurício Pereira, que traz repertório de canções populares, trilhas de novelas e versões de hits do rádio em shows no Supremo |
SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
Nos anos 80, quando ainda integrava o experimental Mulheres
Negras, ao lado de André Abujamra, Maurício Pereira ouviu um
conselho do pai do colega, o diretor de teatro Antonio Abujamra:
"Vocês precisam ouvir os clássicos". Pereira ficou com aquilo na
cabeça e, a partir daí, só fez alimentar sua paixão pela música
popularesca, muitas vezes mergulhando em um repertório considerado brega pelos puristas.
Um pouco daquilo que construiu a formação musical do cantor está no show que reaparece
hoje no Supremo.
Nele, Pereira conta histórias
(como a descrita acima), faz pequenas encenações e desfila um
repertório que inclui pop italiano,
trilha de novela, versões, hits radiofônicos. Leia trechos da entrevista que o artista deu à Folha.
Folha - Certa vez, você disse que
seu trabalho como artista independente era uma "guerrilha poética".
Qual é o papel do "guerrilheiro"?
Maurício Pereira - Um deles é o
de resistir. À pressa, à falta de sabor, de emoção, de risco e de alegria que a vida corrida e alienada
possam impor à arte. Resistir à
padronização, à dificuldade de divulgar e vender o trabalho, que
são coisas que o mercado, subornado pelo jabá, traz. Por outro lado, acho que, mesmo metido numa trincheira, é preciso alegrar.
Tenho duas citações: Che Guevara ("Hay que endurecer sin perder la ternura") e Paulinho da
Viola ("Faça como um velho marinheiro, que durante o nevoeiro
toca o barco devagar").
Folha - Quais os artistas que você
mais gostou de ouvir no passado?
Pereira - Eu fui criado ouvindo
rádio. Boleros, música caipira,
cantores populares. A jovem
guarda foi uma influência, amo o
Erasmo. Muita música italiana
dos anos 60, como Gianni Morandi e Beatles. Assistia aos festivais
da Record, "O Fino da Bossa", o
programa do Chacrinha. Caetano
e Gil foram importantes. Raul aos
montes. E música negra, funk,
reggae, soul. E tem coisas que a
gente odeia, mas se pega cantando (no chuveiro, claro) sem querer. Eu sou apaixonado pela canção popular simples e direta.
Folha - Quais são as fronteiras da
qualidade na música popular?
Pereira - Para mim não existe
brega, existe a canção popular e
ponto final. O que gera lixo é esse
esquema de jabá (dinheiro pago
por gravadoras para executar músicas no rádio).
Folha - Mas o que é brega e o que
é sofisticado?
Pereira - Brega é tudo o que tem
o dedo de executivo de gravadora,
mais do que o do próprio artista.
Há muita coisa sofisticada. Tem a
poesia dos Racionais. Tem a evolução dos artistas brasileiros na
produção de discos. Tem a cena
independente em São Paulo, tem
o pagode abrindo caminho para o
Jorge Aragão estourar, tem as
misturas de folclore com pop, tem
nossos DJs quebrando tudo...
Folha - Qual sua opinião sobre o
pop italiano, que você inclui no repertório dos seus shows?
Pereira - Ouvi muito nos anos
60. Achava original, era a antropofagia italiana (existe isso?) do
rock, criando levadas, texturas,
maneiras de cantar o pop. A cultura italiana é rica, matreira, tem
muito a ver com um pedaço de
São Paulo no qual eu me incluo.
Show: Maurício Pereira
Quando: estréia hoje, às 22h; às
segundas, às 22h (até 30/10)
Onde: Supremo Musical (r. Oscar Freire,
1.000, Jardim Paulista, tel. 852-0950)
Quanto: R$ 10
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