São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2008

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Crítica/cinema

Comédia alemã recebe empurrão do humor judaico

Filme de Dani Levy conta história de locutor esportivo da Berlim Oriental que fica deslocado após a queda do Muro

Divulgação
Henry Hübchen é o cidadão que deve assumir judaísmo para ganhar herança, em "Todos contra Zucker"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Este é um filme que começa bem e, na companhia de alguns outros recentes, leva o espectador a pensar em mudar de opinião sobre o limitado senso de humor germânico. Na verdade, o filme recebe um belo empurrão do humor judaico, bem mais célebre. É a ele que se deve esse sentido de distância que estabelece em relação aos personagens, vistos quase sempre como cobaias em um laboratório.
Na verdade, a vida de Jackie Zucker o leva a ser isso mesmo, uma espécie de cobaia, já que ele, cidadão bem ambientado na velha Berlim Oriental, onde é locutor esportivo, vê-se subitamente deslocado na Berlim pós-Muro. Seu emprego e sua celebridade desapareceram. Restou a habilidade para jogar sinuca e alguma malandragem: bem menos suficiente para evitar que sufoque em dívidas.
Quando Zucker, materialista convicto, recebe a notícia da morte da mãe, que vivia em Frankfurt, seu mundo vai virar de pernas para o ar. Primeiro, porque existe a perspectiva de uma bela herança. Segundo, porque se quiser recebê-la ele terá de conviver pacificamente com seu irmão, Samuel.
Explicando melhor: quando subiu o Muro de Berlim, Jackie ficou do lado comunista, enquanto irmão e mãe passaram para o Ocidente capitalista. O irmão não se contenta em assumir plenamente seu judaísmo: é um ortodoxo militante. Temos então dois irmãos com perspectivas opostas, experiências diversas e uma rivalidade que parece ocupar todos os poros. Eles terão de conviver na mesma casa. Para completar, existe a família dos dois, a começar por Marlene, que nem judia é, e tem de aprender da noite para o dia as rigorosas regras do judaísmo.
A despeito de um flashback não muito bem-sucedido no início, o filme corre formidavelmente e dá conta das situações hilariantes. A partir de determinado instante, porém, a comédia perde um tanto de sua força. É como se o diretor aceitasse fazer uma considerável ginástica a fim de harmonizar os irmãos rivais, e toda a trama passa a acontecer com esse fim.
Não falemos de uma pequena trapaça que o filme promove com o espectador, que acaba por tornar o seu final um tanto previsível. Esse enfraquecimento está longe de tornar o filme desagradável ou mesmo sem graça. Mas o torna bem menos indispensável do que parecia ser em princípio.


TODOS CONTRA ZUCKER
Produção:
Alemanha, 2004
Direção: Dani Levy
Com: Henry Hübchen, Hannelore Eisner e Udo Samel
Onde: Frei Caneca Unibanco Arteplex 4 e iG Cine
Avaliação: regular


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