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DANÇA
"Lei de Nada", com bailarinos com cerca de 40 anos, estréia no Sesc Pompéia
Cia. 2 do Balé da Cidade encara falsas verdades
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Estados da alma e regras sociais,
questões físicas e dilemas emocionais são parte do novo trabalho
da Cia. 2 do Balé da Cidade, que
estréia hoje no galpão do Sesc
Pompéia. Para Gabriel Castillo,
responsável pela concepção e direção de "Lei de Nada", o que define esse "teatro físico" é "a eficácia e a perceptibilidade que a dança oferece, fisicamente associada
ao dinamismo e à clareza gestual
que o teatro tem".
Venezuelano radicado em Londres, Castillo é diretor-assistente
de Lloyd Newson no DV8 Physical Theatre, grupo ao qual está associado desde a criação de "Enter
Achilles" (Entra Aquiles), em
1995. Projetos atuais com o DV8
incluem o filme "Cost of Living"
(Custo de Vida), atualmente em
fase de edição, e uma nova produção que começará em maio.
Castillo foi co-fundador da Rajatabla Danza e atuou em outras
companhias importantes, como
as belgas Michelle Anne de Mey e
Ultima Vez (de Wim Vandekeybus), e Bill Young & Dancers
(EUA). Dirigiu e coreografou para a DanzaHoy (Venezuela) e para o filme "5 Days", de Jonuel
Ponzo, entre outros trabalhos.
No projeto com a Cia. 2, iniciado em janeiro, problematiza "as
falsas verdades". A base é "o auto-engano: o reflexo do mundo objetivo sobre o subjetivo. De vez em
quando saímos do estado confortável e nos encaramos de verdade,
vivemos em constante conflito".
De alguma maneira esse trabalho reflete, também, as contingências da Cia. 2, formada por bailarinos com cerca de 40 anos que procuram maneiras de ampliar seu
campo de atuação numa profissão muitas vezes marcada pela
idade. O próprio Castillo comenta: "Você dança, dança, por paixão, sem pensar muito no depois.
A situação muda e tem de ser considerada por outros prismas. O
que me interessa é exatamente o
conflito: achar as metáforas, a
poesia para uma travessia".
Para a diretora do Balé da Cidade, Mônica Mion, é importante os
próprios bailarinos perceberem
que uma mudança de direção coreográfica pode modificar muito
mais: "Nem sempre a Cia. 2 teve
apoio para existir, há questionamentos sobre a validade da continuidade do trabalho. Essa criação
quer proporcionar uma passagem -não um puro atravessar,
preso no passado, mas sim abrindo outros caminhos".
É a primeira vez que o grupo entra em contato com a linguagem
do teatro físico. A criação é coletiva, a partir de propostas de trabalho de Castillo. A peça se concentra nas relações pessoais e num
repertório de imagens estereotipadas; partindo de experiências
individuais, personaliza o vocabulário de movimentos de cada
intérprete. Para se comunicar
com o público, Castillo acredita
que "não é suficiente um movimento abstrato". Canto, fala, gestos, tudo é material para ligar artista e público.
Como parte da preparação, a
Cia. 2 trabalhou em novembro
com a coreógrafa Renata Mello e
com os bailarinos brasileiros Ricardo Iazetta e Key Sawao (hoje
assistente de direção de "Lei de
Nada"). A trilha foi editada por
Renato Jimenez (com algumas
músicas de sua autoria), a iluminação é de André Boll, e os figurinos, de Marcos Nasci e Gabriel
Castillo. O cenário, entre uma sala
e um quarto, de Daniela Thomas e
Patrícia Rabbat, tem papel determinante na criação.
A idéia da cena, segundo Castillo, é "um espaço exterior que vira
espaço interior. O que define o espaço é sua funcionalidade. Por
exemplo, os indigentes transformam a rua num espaço bem íntimo -dormem, fazem suas necessidades etc. Pela necessidade, o
espaço público vira outra coisa.
Isso é só uma observação de como
os processos mais pessoais têm a
ver com processos mais sociais".
Não chega a ser uma definição
de seu trabalho, mas quase. A
dança aqui se esforça para ligar o
que é de dentro ao que é de fora,
sem apagar diferenças e sem camuflar identidades.
BALÉ DA CIDADE - onde: Sesc Pompéia
(r. Clélia, 93, Água Branca, tel. 3871-7700). Quando: hoje e dias 8, 10, 15, 16 e
17, às 21h, e amanhã e dias 11 e 18, às
18h30. Quanto: de R$ 3 a R$ 10.
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