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Gravuras mostram Japão em transição
Pinacoteca recebe obras de Utagawa Hiroshige, artista pioneiro da era Edo
Nome central da gravura no Japão, Hiroshige imortalizou o ukiyo-e, gênero que mostra a vida em transformação e os prazeres simples dos homens
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
O retrato da diferença está
em 36 vistas do mesmo lugar.
No fim de uma era de transição
e avanço, o artista japonês Utagawa Hiroshige (1797-1858)
imortalizou um gênero que servia para mostrar o efêmero, o
mundo em transformação e os
prazeres simples dos homens.
Esse período de transição era
o período Edo (1603-1867), tema de mostra em cartaz na Pinacoteca do Estado, que abre
hoje "As 36 Vistas do Monte
Fuji", exposição de gravuras
coloridas de Hiroshige, todas
retratando a montanha-símbolo do Japão. O gênero em questão era o ukiyo-e, ou "retrato do
mundo flutuante".
As duas mostras dão a chance
de conhecer a produção artística de um período inserida em
seu contexto histórico -marcado pelo isolamento do Japão
e seu desenvolvimento interno.
Na tentativa de unificar o
país dividido então entre feudos controlados por senhores
rivais, o Japão fechou os portos,
cortou relações com o exterior
e estabeleceu no início do século 17 o shogunato, domínio da
classe de guerreiros sobre o
resto do povo centrado na figura do shogun Tokugawa Ieyasu.
A sede do poder ficava em
Edo, a atual Tóquio, onde os senhores feudais deviam manter
uma segunda residência, por
obediência ao shogun. Os deslocamentos internos pelas estradas do país fizeram florescer
a indústria e o artesanato.
Mais para o fim dessa era,
quando esmaecia o poder dos
samurais, artistas começaram a
retratar o povo. "No começo,
eram representações das gueixas, do kabuki, mas depois a
produção se liga a esses deslocamentos, a apreciação dessas
vistas", diz Marcelo Araújo, curador da Pinacoteca.
Não por acaso, ukiyo-e, estilo
que teve Hiroshige como figura
central, também significa "vida
que passa". Cada gravura é uma
sobreposição de matrizes diferentes, uma para cada cor, composta em escala quase industrial, aproveitando as estradas
japonesas para circular pelo
país e, mais tarde, pelo mundo.
O traço fino dos desenhos seria influência para os impressionistas europeus, também às
voltas com as flutuações de um
mundo cambiante.
AS 36 VISTAS DO MONTE FUJI
Quando: abertura hoje, às 11h; de
ter. a dom., das 10h às 18h; até 25/5
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da
Luz, 2, tel. 3324-1000)
Quanto: R$ 4 (grátis sáb.)
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