São Paulo, sábado, 03 de maio de 2008

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Gravuras mostram Japão em transição

Pinacoteca recebe obras de Utagawa Hiroshige, artista pioneiro da era Edo

Nome central da gravura no Japão, Hiroshige imortalizou o ukiyo-e, gênero que mostra a vida em transformação e os prazeres simples dos homens

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

O retrato da diferença está em 36 vistas do mesmo lugar. No fim de uma era de transição e avanço, o artista japonês Utagawa Hiroshige (1797-1858) imortalizou um gênero que servia para mostrar o efêmero, o mundo em transformação e os prazeres simples dos homens.
Esse período de transição era o período Edo (1603-1867), tema de mostra em cartaz na Pinacoteca do Estado, que abre hoje "As 36 Vistas do Monte Fuji", exposição de gravuras coloridas de Hiroshige, todas retratando a montanha-símbolo do Japão. O gênero em questão era o ukiyo-e, ou "retrato do mundo flutuante".
As duas mostras dão a chance de conhecer a produção artística de um período inserida em seu contexto histórico -marcado pelo isolamento do Japão e seu desenvolvimento interno.
Na tentativa de unificar o país dividido então entre feudos controlados por senhores rivais, o Japão fechou os portos, cortou relações com o exterior e estabeleceu no início do século 17 o shogunato, domínio da classe de guerreiros sobre o resto do povo centrado na figura do shogun Tokugawa Ieyasu.
A sede do poder ficava em Edo, a atual Tóquio, onde os senhores feudais deviam manter uma segunda residência, por obediência ao shogun. Os deslocamentos internos pelas estradas do país fizeram florescer a indústria e o artesanato.
Mais para o fim dessa era, quando esmaecia o poder dos samurais, artistas começaram a retratar o povo. "No começo, eram representações das gueixas, do kabuki, mas depois a produção se liga a esses deslocamentos, a apreciação dessas vistas", diz Marcelo Araújo, curador da Pinacoteca.
Não por acaso, ukiyo-e, estilo que teve Hiroshige como figura central, também significa "vida que passa". Cada gravura é uma sobreposição de matrizes diferentes, uma para cada cor, composta em escala quase industrial, aproveitando as estradas japonesas para circular pelo país e, mais tarde, pelo mundo.
O traço fino dos desenhos seria influência para os impressionistas europeus, também às voltas com as flutuações de um mundo cambiante.


AS 36 VISTAS DO MONTE FUJI
Quando:
abertura hoje, às 11h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 25/5
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 3324-1000)
Quanto: R$ 4 (grátis sáb.)


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