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TEATRO
Após temporada no Rio, montagem que apresenta universo do poeta mato-grossense estréia hoje no Sesc Belenzinho
"Inutilezas" leva ao palco Manoel de Barros
PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO
Poesia do chão, do detrito, do
traste sem valor que comporta
mais transcendência do que se
suspeita, a obra de Manoel de
Barros ganha a superfície do palco do Sesc Belenzinho hoje, com
uma montagem carioca que antes
fez temporada de quatro meses
no Rio e se apresentou em São José do Rio Preto.
"Inutilezas" é mais uma direção
de Moacir Chaves, 37, que já excursionou por outras recriações
de universos literários (casos de
"Viver!" e "Sermão da Quarta-Feira de Cinzas", a partir de Machado de Assis e padre Vieira, respectivamente). O roteiro do espetáculo é criação de Bianca Ramoneda, atriz que divide a cena com
Gabriel Braga Nunes. Completa o
time, digamos, in loco, o músico
Pepê Barcellos.
Sim, porque, além do poeta, outras "participações" compõem o
trabalho. Os músicos Pedro Luís e
Hermeto Pascoal aportam contribuições distintas.
Enquanto o primeiro compôs a
trilha sonora da peça, executada
ao vivo por Barcellos com instrumentos como latas, chaleiras e
outras tralhas, e uma "sinfonia de
33 pios", groove sampleado com
apitos que imitam pássaros, uma
gravação de Pascoal ao piano e
seu depoimento, ainda que ininteligível em virtude da música, em
off arrematam o espetáculo.
Ramoneda, 30, que também é
escritora, conheceu Manoel de
Barros durante o Prêmio Nestlé
de Literatura, em 97. Ela concorria como estreante (com o livro
"Só", que rendeu um monólogo)
e o poeta, com atuais 86 anos, em
outra categoria, de consagrados.
A partir daí que começou a conhecer a obra poética do cuiabano e a se corresponder com ele.
Correio eletrônico ou a antiga
mania de "cartear" dos artistas?
"Manoel não fala com máquina.
Que e-mail, que nada... E ele tem
uma letrinha de formiga", explica
a atriz, que obteve autorização irrestrita para adaptá-lo. Faça o que
quiser com minha obra, disse o
autor. O que a deixou um pouco
assustada, diante das possibilidades que se abriam no vácuo da
permissão sem freios.
"Ele não levava muito a sério,
desconfiava que não renderia teatro. Mas, depois, foi especialmente ao Rio assistir ao espetáculo, e
"pirou'", relata Ramoneda. A pesquisa começou por volta de 2000.
Posteriormente o trabalho de
Moacir Chaves foi demandado.
"A questão com o texto é mais
do que marcar, é criar um determinado sentido. Ao mesmo tempo em que eu trabalhava a qualidade dos atores, ensaiando, fui
criando um sentido da encenação
que não precisa ser desvendado,
mas que é o que sustenta nossa
presença", afirma Chaves sobre a
adaptação, que pretende transcender a pura e simples leitura de
poesias para firmar uma linguagem cênica própria.
A opção do roteiro não foi escolher poemas preferidos, mas destacar recorrências, constantes ao
longo da travessia artística de Barros. Num cenário impreciso, entre ruína e abandono, construção
e terreno baldio, dois irmãos dialogam numa levada pouco linear
e amparada em memórias. A criação é de Fernando Mello da Costa.
A luz, de Aurélio Simoni, intenta
ecoar tal atmosfera.
Para setembro, existe a previsão
de "Inutilezas" se apresentar em
Campo Grande (MS). "A família
já disse que, se não tivermos hospedagem, ficamos na casa do Manoel", afirma Ramoneda.
INUTILEZAS. Texto: Manoel de Barros.
Roteiro: Bianca Ramoneda. Direção:
Moacir Chaves. Com: Bianca Ramoneda e
Gabriel Braga Nunes. Onde: Sesc
Belenzinho - galpão do meio (av. Álvaro
Ramos, 915, Quarta Parada, região leste,
tel. 6605-8143). Quando: sáb., às 21h, e
dom., às 20h. Até 25/8. 50 min. Quanto:
de R$ 5 a R$ 15.
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