São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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ARQUITETURA CÊNICA

J.C. Serroni organiza 231 anos de história; lançamento apresenta palco no colégio Santa Cruz (SP)

Livro mapeia memórias de 892 teatros

Cristiana Castello Branco/Folha Imagem
Interior do teatro do colégio Santa Cruz, projetado por J.C. Serroni, Edson Elito e Gustavo Lanfranchi e que será inaugurado dia 13


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Chega ao livro, pela primeira vez, uma ampla radiografia dos principais palcos do país. Organizado pelo arquiteto e cenógrafo J.C. Serroni, "Teatros - Uma Memória do Espaço Cênico no Brasil" (ed. Senac), com lançamento hoje em São Paulo, traz informações sobre 892 casas de espetáculos, contemplando os 26 Estados e o Distrito Federal.
Oitenta e oito delas ganham painéis mais detalhados, com informações históricas, proprietários, fotos e depoimentos de artistas como Marília Pêra, Tônia Carrero, Paulo Autran, Ítalo Rossi, Lima Duarte, Daniela Thomas, Antunes Filho, José Celso Martinez Corrêa, Antônio Abujamra e Gabriel Villela.
A noite de lançamento coincide com a entrega de mais um palco para a cidade, o teatro Santa Cruz (500 lugares), do colégio de mesmo nome, no Alto de Pinheiros, uma das instituições que apóiam o projeto editorial.
O embrião do livro, a rigor, está na tese de graduação que Serroni, 52, defendeu na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, em 1976, quando mapeou a evolução de alguns edifícios teatrais do município, inclusive os que desapareceram.
Cinco anos de atuação na extinta Fundação Nacional de Artes Cênicas (Fundacen) também contribuíram para esboçar o projeto alavancado há dois anos pela atriz Fernanda Montenegro, "ponte" do patrocínio da BrasilTelecom (R$ 350 mil).
Em formato 25 cm x 30 cm, capa dura, 366 páginas, "Teatros" tem tiragem de 5.000 exemplares. Metade será repassada a instituições educacionais, metade colocada à venda.
Do mineiro Teatro Municipal de Ouro Preto, antiga Casa de Ópera de Vila Rica, inaugurado em 6 de junho de 1770 -o mais antigo edifício teatral do país-, até o paulistano teatro Abril, erguido no lugar do Paramount e aberto em fevereiro do ano passado, são 231 anos de história.
Em ensaio no início do livro, o arquiteto cênico Gustavo Lanfranchi, que assina o design gráfico, lembra que os edifícios teatrais tornaram-se um signo da cultura urbana, relacionando-se com o seu entorno.
Até meados do século 20, predominam espaços umbilicados com as praças onde são construídos, caso do José de Alencar, em Fortaleza (CE, 1910). Hoje, eles estão voltados para shoppings ou centros empresariais.
Cerca de 90% dos palcos brasileiros têm conformação italiana: palco separado da platéia, com visão sempre frontal e definição clara da boca de cena.
Na introdução, Serroni afirma que há espaços que já valem pela concepção arquitetônica. Cita os paulistanos Oficina (criado em 1958 e reconstruído no início dos anos 80 por Lina Bo Bardi e Edson Elito) e Sesc Pompéia (1982, por Lina); o Nacional Cláudio Santoro, em Brasília (1979, por Oscar Niemeyer); o Castro Alves, em Salvador (1958, por José Bina Filho e Humberto Lemes); e o Ópera de Arame, em Curitiba (1992, por Domingos Bongestabs).
Alguns são pouco significativos do ponto de vista da arquitetura cênica, mas equivalem a marcos da história teatral do país, como o Tablado (Rio, 1951) e o Teatro de Arena Eugênio Kusnet (São Paulo, 1955), este inclusive ao lado do Espaço Cenográfico que Serroni criou e dirige há cinco anos.
Fernanda Montenegro assina a apresentação; o cenógrafo Gianni Ratto, o prólogo; e o crítico Alberto Guzik, o prefácio.
Apresentado hoje para convidados, o teatro do colégio Santa Cruz será inaugurado oficialmente no dia 13, com show de João Bosco. O projeto arquitetônico é de J.C. Serroni, Edson Elito e Gustavo Lanfranchi. O colégio, que completa 50 anos, investiu cerca de US$ 1,5 milhão.


"TEATROS - UMA MEMÓRIA DO ESPAÇO CÊNICO NO BRASIL" (ed. Senac, 366 págs., R$ 90). Organização: J.C. Serroni. Lançamento: hoje, às 19h, para convidados, seguido de performances e abertura da exposição fotográfica "Teatros do Brasil". Onde: teatro do colégio Santa Cruz (r. Orobó, 277, Alto de Pinheiros, tel. 3024-5191). Patrocinador: BrasilTelecom.



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