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ARTES PLÁSTICAS
Mostra com 75 obras de Lothar Charoux que abre hoje no Ibirapuera revela artista além do concretismo
MAM exibe linha provocativa de Charoux
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma linha livre, que explora o
espaço e o vazio, captura o olhar
do visitante da antologia de Lothar Charoux (1912-1987) que
abre hoje na sala Paulo Figueiredo
do MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo.
Os 75 trabalhos, entre guaches,
óleos, nanquins e objetos, exploram a trajetória do artista austríaco de família francesa, que se radicou em São Paulo em 1928 e tornou-se um dos expoentes do concretismo paulista, como fundador
do grupo Ruptura. Apesar disso,
não é constantemente lembrado
no debate sobre o movimento.
"Foi considerado o mais concretista entre os concretistas, mas
sua produção ficou um pouco à
margem, não sendo exibida com
freqüência", avalia a curadora da
mostra, Maria Alice Milliet.
Entre as preciosidades levantadas por Milliet em sua pesquisa,
está um painel de 16 módulos que
estava na reserva técnica do Banco Safra, raramente antes exibido.
O conjunto de probabilidades
agregado ao rigor da estrutura
ainda impressiona.
"Fiquei até em dúvida sobre como montaria a obra, mas quando
achei o que unia todos os módulos, se evidenciou o intenso trabalho de planejamento e execução
dela. Ao mesmo tempo em que os
quadrados podem se intercambiar, há um diagrama estruturando todo o conjunto. Cada vez que
observo a obra, mais a admiro."
Biografia
Charoux não teve uma vida de
fartos orçamentos. Tinha uma casa confortável no Alto da Lapa,
onde instalou o seu ateliê, mas teve de trabalhar como comprador
de uma indústria de linhas, que o
fez conhecer muito da cidade e,
certamente, dialogou com a sua
produção plástica.
"Em uma de suas obras, essa linha poética dele parece mimetizar aqueles fios que saem de cones
de tecelagem, quando estão sendo
produzidos em série. É como se o
industrial viesse parar na arte, se
transformando", afirma a curadora.
Da sua produção inicial, não há
como não notar os retratos algo
expressionistas de Maria Leontina, datado de 1946, sobre a artista
plástica que acabou se radicando
mais tarde no Rio, do gravador
Marcelo Grassmann, também de
1946, e o dele próprio, de 1947.
Um pouco mais tarde, Milliet
enxerga uma fase mais de equilíbrio, em tons baixos, que se aproxima da escola Bauhaus. Em todos eles, a linha, feita à mão, é
guiada pela geometria, mas não é
mecânica. "Por mais preciso que
seja o traço, há uma vibração, o
toque do artista. Não é nada mecânico", diz a curadora.
Já em 1967, Charoux iria criar a
série "Tortinhos", na qual a estabilidade do plano será testada
com a inclinação da linha. Mais
tarde, vem a fase dos módulos,
exemplificada no painel redescoberto.
E o artista também começa a tatear o tridimensional, confeccionando objetos, como pratos gravados, trabalhos em vidro, cubos,
ladrilhos e até um objeto rotativo,
aproximando-se da arte cinética.
"Assim como outros artistas da
época, ele constrói uma obra
aberta, rejeitando a forma unívoca", avalia Milliet.
Lothar Charoux: A Poética da Linha
Quando: ter. a dom., das 10h às 18h;
abertura hoje (para convidados). Até 9/10
Onde: MAM (Museu de Arte Moderna)
de São Paulo (parque Ibirapuera, portão
3, tel.: 5549-9688)
Quanto: R$ 2,25 a R$ 5,50
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