São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2005

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ARTES PLÁSTICAS

Mostra com 75 obras de Lothar Charoux que abre hoje no Ibirapuera revela artista além do concretismo

MAM exibe linha provocativa de Charoux

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma linha livre, que explora o espaço e o vazio, captura o olhar do visitante da antologia de Lothar Charoux (1912-1987) que abre hoje na sala Paulo Figueiredo do MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo.
Os 75 trabalhos, entre guaches, óleos, nanquins e objetos, exploram a trajetória do artista austríaco de família francesa, que se radicou em São Paulo em 1928 e tornou-se um dos expoentes do concretismo paulista, como fundador do grupo Ruptura. Apesar disso, não é constantemente lembrado no debate sobre o movimento.
"Foi considerado o mais concretista entre os concretistas, mas sua produção ficou um pouco à margem, não sendo exibida com freqüência", avalia a curadora da mostra, Maria Alice Milliet.
Entre as preciosidades levantadas por Milliet em sua pesquisa, está um painel de 16 módulos que estava na reserva técnica do Banco Safra, raramente antes exibido. O conjunto de probabilidades agregado ao rigor da estrutura ainda impressiona.
"Fiquei até em dúvida sobre como montaria a obra, mas quando achei o que unia todos os módulos, se evidenciou o intenso trabalho de planejamento e execução dela. Ao mesmo tempo em que os quadrados podem se intercambiar, há um diagrama estruturando todo o conjunto. Cada vez que observo a obra, mais a admiro."

Biografia
Charoux não teve uma vida de fartos orçamentos. Tinha uma casa confortável no Alto da Lapa, onde instalou o seu ateliê, mas teve de trabalhar como comprador de uma indústria de linhas, que o fez conhecer muito da cidade e, certamente, dialogou com a sua produção plástica.
"Em uma de suas obras, essa linha poética dele parece mimetizar aqueles fios que saem de cones de tecelagem, quando estão sendo produzidos em série. É como se o industrial viesse parar na arte, se transformando", afirma a curadora.
Da sua produção inicial, não há como não notar os retratos algo expressionistas de Maria Leontina, datado de 1946, sobre a artista plástica que acabou se radicando mais tarde no Rio, do gravador Marcelo Grassmann, também de 1946, e o dele próprio, de 1947.
Um pouco mais tarde, Milliet enxerga uma fase mais de equilíbrio, em tons baixos, que se aproxima da escola Bauhaus. Em todos eles, a linha, feita à mão, é guiada pela geometria, mas não é mecânica. "Por mais preciso que seja o traço, há uma vibração, o toque do artista. Não é nada mecânico", diz a curadora.
Já em 1967, Charoux iria criar a série "Tortinhos", na qual a estabilidade do plano será testada com a inclinação da linha. Mais tarde, vem a fase dos módulos, exemplificada no painel redescoberto.
E o artista também começa a tatear o tridimensional, confeccionando objetos, como pratos gravados, trabalhos em vidro, cubos, ladrilhos e até um objeto rotativo, aproximando-se da arte cinética. "Assim como outros artistas da época, ele constrói uma obra aberta, rejeitando a forma unívoca", avalia Milliet.


Lothar Charoux: A Poética da Linha
Quando:
ter. a dom., das 10h às 18h; abertura hoje (para convidados). Até 9/10
Onde: MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo (parque Ibirapuera, portão 3, tel.: 5549-9688)
Quanto: R$ 2,25 a R$ 5,50


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