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TEATRO
Em "Chão de Barros", Frederico Foroni faz um campeonato de citações, com trechos de várias obras do autor
Poesia de Manoel de Barros desafia direção
Chris von Ameln - 10.jan.2003/Folha Imagem
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Cena do espetáculo "Chão de Barros", peça inspirada na obra poética de Manoel de Barros, com dramaturgia e direção de Frederico Foroni, em temporada no CCSP |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Não é tarefa fácil encenar
poesia. Em geral, ou se cai na
declamação ou se adapta a poesia
em narrativa, forçando para que
impressões fugazes se tornem
conflitos dramáticos. Nos dois casos, há diluição. A saída seria conseguir com as imagens cênicas o
mesmo deslocamento que o poeta obtém com as palavras. Mas esse estranhamento do mundo é uma proeza para poucos.
O fato de Frederico Foroni encarar o desafio já em sua segunda
encenação (a primeira foi "A Bicicleta do Condenado", de Arrabal,
em 2001) é prova de uma saudável
ousadia. Além disso, Foroni está
bem cercado, já que este "Chão de
Barros" foi concebido enquanto
montagem curricular do Departamento de Artes Cênicas da USP.
Por isso, Foroni merece ser levado
a sério, enquanto um candidato
ao primeiro time, e não ser tratado com condescendência.
Assinando também cenografia
e iluminação, o encenador sabe
construir imagens fortes, com alguns bons achados, como o guarda-chuva/refletor, e arrisca a multimídia, com a projeção de Carlitos fechando o espetáculo. Nem
por isso, enquanto adaptador, toma o texto como mero pretexto
para suas invenções: tanto ele
quanto os atores demonstram
uma paixão autêntica pela obra
de Manoel de Barros.
Barros, no entanto, não é autor
fácil de se capturar no palco. Seu
projeto poético de recusar qualquer narrativa, citado textualmente várias vezes no espetáculo
("Queria o livro que não tem quase tema e se sustente só pelo estilo"), dificilmente se sustentaria no
palco, se aplicado à risca: irresistivelmente, o público procura atribuir a cada imagem um sentido
lógico, naquilo que Pavis chama
de "vetorização do desejo".
Foroni sabe disso, e urdiu para
seu espetáculo uma trama simples, que une os trechos escolhidos entre vários livros de Barros.
Após a morte do pai, angustiado
com a morte, o poeta revê sua vida ao voltar à fazenda da infância.
O poeta se desdobra não só em
um alter ego gêmeo, mas se projeta nas figuras populares que revê.
É aí que estilo atropela a trama.
Como um tempero forte demais,
frases como "quando o rio está
começando um peixe, ele me coisa, ele me rã, ele me árvore" dão o
mesmo gosto a todos os personagens, e o diálogo com Andalécio,
por exemplo, redunda em um
campeonato de citações. Não há
frase que não seja poética, e os
atores, embora ágeis, sem situação dramática para se apoiar, flertam com a declamação.
Esgarçado em fragmentos, o espetáculo se habilita a agradar aos
fãs de Barros, mas não se constitui
em uma poética cênica autônoma. Mais se espera da ousadia e
capacidade de Frederico Foroni.
Chão de Barros
Dramaturgia e direção: Frederico
Foroni
Com: Roberto Leite, Márcio Araújo e
outros
Onde: Centro Cultural São Paulo (r.
Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611, r. 250)
Quando: de ter. a qui., às 21h; até 27/2
Quanto: R$ 12
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