São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2010 |
Texto Anterior | Índice
Crítica/"Entre Irmãos" Jim Sheridan filma remake edulcorado
ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O cinema do irlandês
Jim Sheridan explora
com sensibilidade temas como a família, a paternidade, o luto, a violência da guerra e as marcas psicológicas que
ela deixa. Seu olhar trabalha as
relações sociais, relacionando-as com a esfera política. Por isso foi natural ter escolhido fazer um remake de "Brothers"
(2004), premiado drama familiar que tem a guerra como pano de fundo, dirigido pela dinamarquesa Susanne Bier. Também é natural, e inevitável,
comparar o original e a versão,
chamada "Entre Irmãos".
Sam (Tobey Maguire) e o irmão mais novo Tommy (Jake
Gyllenhaal) são completamente opostos. Sam é um militar
respeitado, Tommy é um vagabundo que acaba de sair da prisão. Sam é enviado em missão
ao Afeganistão e desaparece
pouco depois. É dado como
morto. A partir daí, Tommy se
aproxima cada vez mais da família do irmão -a bela mulher
(Nathalie Portman) e as duas
filhas-, gesto de consequências imprevisíveis.
Bier aborda a questão da
guerra de modo mais franco e
corajoso: é uma obra-prima
cheia de sensibilidade, claramente antimilitarista. O relato
de Sheridan é mais edulcorado.
O antimilitarismo simplesmente desaparece, em benefício de uma abordagem mais
convencional, sentimental e de
menor alcance, na qual o jogo
de espelho entre duas duplas
(Sam e o soldado que cai prisioneiro com ele na guerra, e Sam
e Tommy na cidade) é menos
importante do que o triângulo
amoroso. Sheridan mostra as
sequelas da guerra, mas não a
questiona, é apenas um dado.
"Entre Irmãos" escorrega
também na utilização desbragada dos bons sentimentos e
das imagens do "sonho americano": Sam e a mulher são o casal perfeito; Tommy se "regenera" subitamente e cuida das
sobrinhas, a quem até então
não tinha dado atenção. Essa
excessiva utilização de afetos
pasteurizados intoxica o relato.
A opção de Sheridan pela ênfase nas interpretações de Maguire, Gyllenhaal e Portman sacrifica a atmosfera e a complexidade das relações entre os
protagonistas. Não se pode negar a coerência da carreira de
Jim Sheridan, mas "Entre Irmãos" é um de seus filmes menos pessoais, menos arriscados.
ENTRE IRMÃOS
Diretor: Jim Sheridan Texto Anterior: Teatro: Grupo Tapa reestreia peça "O Ensaio" Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |