São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2006

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Grupo passeia pela história do circo

DA REPORTAGEM LOCAL

Curioso o caminho da periferia ao centro percorrido pelo espetáculo "O Auto do Circo", com a Cia. Estável de Teatro, sobre a saga transcontinental de uma família imigrante que busca equilibrar a vida sob a lona.
A montagem do texto de Luís Alberto de Abreu, pela diretora convidada Renata Zhaneta, estreou em 2004 na zona leste de São Paulo. É fruto de extinto projeto de residência da cia. no teatro municipal Flávio Império, sob amparo da Lei de Fomento, o que ativou o público do bairro de Cangaíba e outras regiões.
Em 2005, vingou apenas uma única apresentação no teatro Gazeta, em plena avenida Paulista. Três semanas atrás, a montagem participou da mostra oficial do Festival de Teatro de Curitiba, na Ópera de Arame.
Hoje, "O Auto do Circo" chega ao Centro Cultural São Paulo para temporada de cinco semanas. Chance para rever ou conhecer o trabalho desse grupo de sete atores que conseguiu agregar artistas antenados com essa arte popular.
Vide a direção circense de Marcelo Milan, a concepção musical de Reinaldo Sanches e a consultoria da historiadora Ermínia Silva. Além, é claro, da parceria com Abreu, dramaturgo dedicado à pesquisa da comédia popular na Fraternal Cia. de Artes e Malas-Arte, e de Renata Zhaneta, atriz e uma das fundadoras do grupo Folias d'Arte.
Na história de Abreu, com brechas para a commedia dell'arte e o circo-teatro, o velho e ranzinza palhaço Coscorão, interpretado por Nei Gomes, tem como principal interlocutor o jovem e espevitado palhaço Ximbeva, vivido por Jhaíra. Dá-se a química da dupla com as máscaras tradicionais do picadeiro: o "branco", que pensa que é esperto em sua pretensa retidão, e o "augusto", que se diverte o tempo todo e é esperto (talvez) sem sabê-lo.
Da origem do seu circo no século 19, pelos avós que moravam na Europa, até a chegada da trupe ao Brasil, Coscorão oscila o passado e o presente, atravessa momentos de lirismo e de tragédia em meio a tradicionais números aéreos ou de solo. A dramaturgia propicia leitura da própria história do circo familiar no país.
"O espetáculo coroa uma questão que a Estável se coloca desde sua criação, em 1998: qual a necessidade da arte, do artista para a sociedade?", diz o ator Nei Gomes, 28. A reflexão também envereda pelo resgate da memória em nossa cultura. (VS)

O Auto do Circo
Quando:
estréia hoje, às 21h; ter. a qui., às 21h; até 4/5
Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, 3277-3611)
Quanto: R$ 12


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