São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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FOTOGRAFIA

Novo espaço, projetado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, tem curadoria de Eduardo Brandão

Cortes revelam dor e cor na recém-aberta galeria Vermelho

EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA

Um corte . Uma dor e uma cor: vermelho. O enigmático nome da novíssima galeria Vermelho ganha contorno onírico quando entramos no espaço generoso, e todo branco, inventado por Paulo Mendes da Rocha.
Uma inesperada faixa (claro, vermelha) nasce na calçada e invade o espaço expositivo orientando nosso movimento para o interior desse misto de cápsula futurista e casa de campo.
A luminosidade que contorna as obras do salão inferior revela a imagem de um corte seco que percorre a espinha dorsal de Rafael Assef, um dos 16 irrequietos vermelhos selecionados pelo pesquisador de fotografia e curador da galeria Eduardo Brandão.
Tal corte, longe de estar cicatrizado, mas com a sangria estancada, pode ser a chave de acesso a muitas das obras expostas e também ao conceito de Brandão.
Muitas das obras vermelhas em exposição remetem ao corpo, esse ser que pulsa na direção do desejo e da insatisfação. Já não se trata de discutir identidade pessoal mas, sim, valores universais.
Distante de um olhar contemplativo e plácido diante do físico, o olhar vermelho espreita o corpo como lugar de conflitos do homem moderno. Ora focando a sensualidade e o sonho, como nos trabalhos de Edouard Fraipont e Cassio Vasconcellos, ora como manifestação do claustro e expressão dolorosa da liberdade como em Amilcar Packer e no próprio Assef.
A Vermelho abriga também o trabalho de Odires Mlászho, que utiliza fotografias antigas como ponto de partida para sua obra. Criador obsessivo, Mlászho mostra dois retratos recortados com tesouras.
Trabalhos como o de Claudia Jaguaribe, no entanto, surgem como um corpo dissonante em meio a outros mais afinados com o eixo da curadoria.
Dentre imagens conseguidas a partir de uma rica diversidade de técnicas, algumas elaboradíssimas como no caso de Cris Bierrenbach, destaca-se o vídeo de simples confecção de Packer.
Com um estilete ele rasga o carpete de uma sala e, nu, rasteja entre o carpete e o chão. Sons e movimentos criam uma atmosfera bela e inovadora. Vermelho não na cor, mas no conceito.
Tesouras, estiletes, incisões de toda sorte. Cortar para romper com dogmas e o medo de arriscar. Cortar para enxergar além. Cortar porque abaixo da pele o que existe é tinta. Vermelha.


Exposição Galeria Vermelho    
Onde: r. Minas Gerais, 350, tel. 3257-2033
Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h. Até 22/6
Quanto: entrada franca. Preço das obras: de R$ 1.500 a R$ 5.500




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