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FOTOGRAFIA
Novo espaço, projetado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, tem curadoria de Eduardo Brandão
Cortes revelam dor e cor na recém-aberta galeria Vermelho
EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA
Um corte . Uma dor e uma
cor: vermelho. O enigmático
nome da novíssima galeria Vermelho ganha contorno onírico
quando entramos no espaço generoso, e todo branco, inventado
por Paulo Mendes da Rocha.
Uma inesperada faixa (claro,
vermelha) nasce na calçada e invade o espaço expositivo orientando nosso movimento para o
interior desse misto de cápsula futurista e casa de campo.
A luminosidade que contorna
as obras do salão inferior revela a
imagem de um corte seco que
percorre a espinha dorsal de Rafael Assef, um dos 16 irrequietos
vermelhos selecionados pelo pesquisador de fotografia e curador
da galeria Eduardo Brandão.
Tal corte, longe de estar cicatrizado, mas com a sangria estancada, pode ser a chave de acesso a
muitas das obras expostas e também ao conceito de Brandão.
Muitas das obras vermelhas em
exposição remetem ao corpo, esse
ser que pulsa na direção do desejo
e da insatisfação. Já não se trata de
discutir identidade pessoal mas,
sim, valores universais.
Distante de um olhar contemplativo e plácido diante do físico,
o olhar vermelho espreita o corpo
como lugar de conflitos do homem moderno. Ora focando a
sensualidade e o sonho, como nos
trabalhos de Edouard Fraipont e
Cassio Vasconcellos, ora como
manifestação do claustro e expressão dolorosa da liberdade como em Amilcar Packer e no próprio Assef.
A Vermelho abriga também o
trabalho de Odires Mlászho, que
utiliza fotografias antigas como
ponto de partida para sua obra.
Criador obsessivo, Mlászho mostra dois retratos recortados com
tesouras.
Trabalhos como o de Claudia
Jaguaribe, no entanto, surgem como um corpo dissonante em
meio a outros mais afinados com
o eixo da curadoria.
Dentre imagens conseguidas a
partir de uma rica diversidade de
técnicas, algumas elaboradíssimas como no caso de Cris Bierrenbach, destaca-se o vídeo de
simples confecção de Packer.
Com um estilete ele rasga o carpete de uma sala e, nu, rasteja entre o carpete e o chão. Sons e movimentos criam uma atmosfera
bela e inovadora. Vermelho não
na cor, mas no conceito.
Tesouras, estiletes, incisões de
toda sorte. Cortar para romper
com dogmas e o medo de arriscar.
Cortar para enxergar além. Cortar
porque abaixo da pele o que existe
é tinta. Vermelha.
Exposição Galeria Vermelho
Onde: r. Minas Gerais, 350, tel. 3257-2033
Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h;
sáb., das 10h às 17h. Até 22/6
Quanto: entrada franca. Preço das
obras: de R$ 1.500 a R$ 5.500
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