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DANÇA
O "autoconhecimento" de "Res Ipsa", do israelense Rami Levi, será encenado de hoje a domingo no Teatro Municipal
Nova coreografia do BCSP busca evolução
KATIA CALSAVARA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Pés pregados ao chão. Corpos
que, como pêndulos, balançam
para cá, para lá. Essa é a cena inicial de "Res Ipsa", a nova coreografia do Balé da Cidade de São
Paulo. Com estréia amanhã, às
21h, no Teatro Municipal, a obra
do israelense Rami Levi, 34, propõe aos bailarinos um desafio
maior do que o da dança: a busca
do autoconhecimento.
Alguns coreógrafos detestam
que os bailarinos opinem na obra.
Não é o caso de Levi, que sugeriu
movimentos para serem desenvolvidos por eles. "Estávamos
precisando de um trabalho diferente, de movimentações delicadas", diz Mônica Mion, 48, diretora artística da companhia, que
convidou Levi após conhecer seu
trabalho na Cia. Portuguesa de
Bailado Contemporâneo, dirigida
por Vasco Wellenkamp.
Com "Res Ipsa", Rami Levi estréia o seu primeiro trabalho em
solo brasileiro. O ex-bailarino,
que fez parte da Batsheva Dance
Company e Vertigo Dance Company (Israel), da Companhia Nacional de Danza (Espanha) e do
Cullberg Ballet (Suécia), elogiou a
criatividade e a sensibilidade dos
bailarinos do BCSP.
"Res Ipsa", em latim, significa
"aquilo que fala por si". A obra expõe a luta do ser humano em busca de evolução. "A coreografia é
resultado de uma realidade interna, do que eu vivo a cada dia", diz.
Os movimentos dançados sugerem algo fora do lugar, uma busca
que se reflete em atos ora intencionados, ora disparatados. Os
pés são destacados do chão. Os
olhos, cobertos por uma mão espalmada. E um gesto retira da boca algo que não se pode definir.
Os bailarinos comentam que o
processo de montagem foi fundamental na busca de uma boa interpretação para um tema tão delicado. "O Rami fez questão de conhecer cada bailarino, tanto pessoal como profissionalmente.
Deixou que cada um de nós improvisasse em cima de movimentos básicos", diz Anderson Braz.
"Ele nos mostrou vários caminhos para chegar ao resultado que
queria", afirma Yasser Diaz, 25.
Junto com "Res Ipsa", os balés
"Divinéia" e "Interlúdio", de Jorge Garcia, reestréiam no Municipal. Dançado só por homens, a
primeira obra foi baseada no livro
"Estação Carandiru", de Drauzio
Varella. A companhia 2 do BCSP
também reestréia amanhã "Deserto dos Anjos", de Cláudia Palma, que pesquisou em asilos a dor
dos idosos abandonados por seus
familiares. Leia trechos da entrevista com Rami Levi.
Folha - Como você avalia sua carreira como bailarino?
Rami Levi - Eu tive muita sorte
porque trabalhei com pessoas interessantes. Coreógrafos que me
inspiraram muito, como Mats Ek,
Ohad Naharin, Nacho Duato. Minha carreira como bailarino foi
muito enriquecedora.
Folha - Por que você parou de
dançar?
Levi - Tinha necessidade de fazer
outras coisas. Para você ser bailarino profissional, é preciso de dedicação quase integral. Eu senti
que era o momento de fazer coisas diferentes. Estudei acupuntura, shiatsu e artes marciais.
Folha - Como você avalia a técnica dos bailarinos brasileiros?
Levi - Eu prefiro não falar de todos os brasileiros porque não conheço o trabalho de todos. Aqui
no BCSP eles são fantásticos e foram parte essencial do desenvolvimento da coreografia. Minha
experiência com eles foi linda.
Folha - E como foi a recepção do
tema?
Levi - Eu sentia que esse tema [o
do conhecimento interior" era algo comum também para os intérpretes, porque eles também vivem as mesmas coisas, fazem as
mesmas perguntas. Em suas vidas
há conflitos, saudades: são coisas
comuns para todos.
Folha - As artes marciais o inspiraram nesse trabalho?
Levi - Sim. Às vezes você percebe
que a dinâmica dos movimentos é
muito cortante. Eles são intensos
e exigem muita concentração, são
quase meditativos.
Folha - Quando veio para o Brasil,
já sabia o que iria montar?
Levi - A obra já estava idealizada,
mas mudou muito. Eu me deixei
levar pelas coisas que aconteceram na sala de aula.
BALÉ DA CIDADE DE SÃO PAULO.
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de
Azevedo, s/nš, tel. 222-8698). Quando:
de hoje a sábado, às 21h, e domingo, às
11h e às 17h. Quanto: de R$ 5 a R$ 10.
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