São Paulo, sábado, 04 de julho de 2009

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Crítica

Osesp e Maria Bayo fazem zarzuela com intensidade

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

Estranha história de um gênero musical. Criada na Espanha em meados do século 17, a zarzuela desaparece à sombra da ópera italiana, mas volta a ter grande popularidade no 19. Já no século 20 quase some da cena, mas nas últimas décadas vem voltando: tudo é possível no mundo da ópera. A soprano Maria Bayo, o barítono Carlos Bergasa e o maestro Víctor Pablo Pérez acabam de lançar na Espanha um CD com "La Tempranica", de Gerónimo Giménez (1854-1923). Os três fizeram excertos dessa e de outra zarzuela quinta-feira passada, na Sala São Paulo, com a Osesp e o Coro da Osesp, mais o Coro Infantil e solistas do Coro. A zarzuela é uma comédia musical, com diálogos intercalados entre números musicais. Tanto a menos conhecida "La Tempranica" quanto a famosa "La Gran Vía", de Chueca (1846-1908) e Valverde Durán (1846-1910), são do gênero "chico" (pequeno), em um ato. Feitas sem diálogos, perdem algum sentido cômico; mas o sentido ali é arrimo para a música, e a chance de ouvir duas zarzuelas numa noite não era de se desperdiçar. Na semana anterior, Pérez regeu a Osesp num programa que incluía Bartók (1881-1945) e Mendelssohn (1809-47). Deu conta do recado; já nas zarzuelas, fez muito mais, conduziu com vital entendimento e entusiasmo. E a Osesp tocou com outro som, as cordas esbanjando intensidade. Estrela em seu país, Maria Bayo está à vontade em qualquer lugar e adora claramente essa música. Não dá de cara tudo de si, o timbre se revela aos poucos; e combina dramaticamente bem com as potências do barítono Bergasa. Ouvidas daqui, essas valsas, xotes, tangos -mais simples em "La Gran Vía", mais sofisticados em Giménez- parecem uma pré-história do que viria a ser a grande música popular do século 20: justamente a combinação dessas formas com os ritmos africanos (no nosso caso, com uma incrível variedade de poesia cantada). São um teatro ingênuo da música, que hoje vem ganhar vida nova, paradoxalmente, na malícia curtida dos nossos ouvidos.




ZARZUELAS

Com: Maria Bayo,Carlos Bergasa, Víctor Pablo Pérez, Osesp e outros
Onde: Sala São Paulo (Pça. Júlio Prestes, 16; tel.: 3223-3966)
Quanto: de R$ 30 a R$ 104
Recomendação: Não recomendado para menores de 8 anos
Quando: 6 de julho, às 21h
Avaliação: ótimo




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