São Paulo, quarta-feira, 04 de setembro de 2002

Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Cantora se apresenta hoje em SP com canções de seu mais recente disco, inspirado na obra do músico americano

Freelon reinventa Stevie Wonder em show

EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

Segunda atração da quinta edição da série Diners Club Jazz Nights, a cantora de jazz norte-americana Nnenna Freelon volta ao Brasil com fome. E não é de Grammy, prêmio para o qual já foi indicada cinco vezes.
"Tenho uma personalidade faminta e que fica eufórica com as possibilidades de explorar a música. Como saxofonistas e guitarristas, tenho fome e curiosidade para fazer experiências musicais, só pelo prazer que isso proporciona", conta por telefone a cantora, que se apresenta hoje e amanhã no Bourbon Street.
E esse jeito de lidar com a música ocupa todos os quadrantes do recém-lançado CD "Tales of Wonder", em que ela relê a obra de Stevie Wonder com respeito, mas sem excessos de reverência. O resultado são recriações com sabores indisponíveis nas gravações originais.
Isso não é novidade. Na discografia da cantora, houve outros momentos em que ela abandonou o jazz mais ortodoxo e emprestou dignidade a um repertório pop. A diferença é que nesse seu sétimo trabalho a música de Wonder traz muito ouro harmônico a ser explorado.
Até por isso, ela diz que não foi fácil descobrir a melhor maneira de garimpar: "Tentei fugir da interpretação dele. Concentrei-me na melodia e passava dias cantando sem acompanhamento. Esticava aqui, diminuía ali. Isso me libertou para explorar a música e até cheguei a ouvir os acordes na minha cabeça".
Alguns desses acordes foram parar no trabalho. Ao lado de uma infinidade de músicos, Freelon -que sabe ler e escrever música- assina os arranjos.
Com o repertório registrado em "Tales of Wonder", Freelon entra na mesma vereda visitada pela também cantora Cassandra Wilson: a busca por temas pop que, enriquecidos, podem virar alternativas aos abusivamente relidos standards jazzísticos.
"A intenção original não era essa, mas é claro que procuro novos standards, temas populares que possam ser respeitados por puristas, embora eu não cante só para eles. Vejo a música como um sistema fluido e conectado, independentemente dos propósitos do marketing. Música é música, boa ou não tão boa."
Por falar em marketing, Freelon afirma que não se incomoda pelo fato de cantoras brancas e menos aparelhadas tecnicamente liderarem as paradas e as vendas de discos de jazz, mas suas idéias a respeito não escondem alfinetadas.
"Sou apenas uma cantora e acho que essa coisa de mercado é atribuição de outras pessoas. O que posso dizer é que não me interessa muito esse hype todo sobre as moças. Do meu lado, eu apenas sonho com uma longa e interessante carreira, que me permita viver decentemente, gravar CDs cheios de substância, viajar e comer boa comida."
Apesar de ter visitado o Brasil pela primeira vez há dois anos, ela conta que não se lembra muito bem da culinária daqui, que pretende explorar melhor.
Planos musicais para o futuro? "Ando ouvindo muito a obra de Thelonious Monk. Tenho um projeto na cabeça de gravar um CD apenas com composições dele. Não sei se vou conseguir. Por enquanto, a empreitada parece arriscada demais pra mim."
Além dos shows, a cantora aproveita a visita para exercer a segunda atividade de que mais gosta: ensinar. Amanhã, das 11h às 12h30, ela realiza um workshop de canto e percussão para o grupo Meninos do Morumbi.
O evento, fechado ao público, acontece no Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, região central, tel. 3113-3600). Mas, terminado o workshop, ela faz, no mesmo local, uma apresentação aberta de meia hora.
"Gosto desse tipo de atividade, pois sempre acabo aprendendo com os jovens. Eles têm tanta energia e, em muitos casos, estão passando pelas experiências da vida pela primeira vez, diferentemente de nós, adultos, que já vimos o mesmo filme várias e várias vezes. Eles me ajudam a recuperar o prazer das coisas simples."


NNENNA FREELON. Quando: hoje e amanhã, às 22h. Onde: Bourbon Street Music Club (r. dos Chanés, 127, Moema, tel. 5561-1643). Quanto: de R$ 65 a R$ 120.



Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.