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MÚSICA
Cantora se apresenta hoje em SP com canções de seu mais recente disco, inspirado na obra do músico americano
Freelon reinventa Stevie Wonder em show
EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
Segunda atração da quinta edição da série Diners Club Jazz
Nights, a cantora de jazz norte-americana Nnenna Freelon volta
ao Brasil com fome. E não é de
Grammy, prêmio para o qual já
foi indicada cinco vezes.
"Tenho uma personalidade faminta e que fica eufórica com as
possibilidades de explorar a música. Como saxofonistas e guitarristas, tenho fome e curiosidade para
fazer experiências musicais, só
pelo prazer que isso proporciona", conta por telefone a cantora,
que se apresenta hoje e amanhã
no Bourbon Street.
E esse jeito de lidar com a música ocupa todos os quadrantes do
recém-lançado CD "Tales of
Wonder", em que ela relê a obra
de Stevie Wonder com respeito,
mas sem excessos de reverência.
O resultado são recriações com
sabores indisponíveis nas gravações originais.
Isso não é novidade. Na discografia da cantora, houve outros
momentos em que ela abandonou o jazz mais ortodoxo e emprestou dignidade a um repertório pop. A diferença é que nesse
seu sétimo trabalho a música de
Wonder traz muito ouro harmônico a ser explorado.
Até por isso, ela diz que não foi
fácil descobrir a melhor maneira
de garimpar: "Tentei fugir da interpretação dele. Concentrei-me
na melodia e passava dias cantando sem acompanhamento. Esticava aqui, diminuía ali. Isso me libertou para explorar a música e
até cheguei a ouvir os acordes na
minha cabeça".
Alguns desses acordes foram
parar no trabalho. Ao lado de
uma infinidade de músicos, Freelon -que sabe ler e escrever música- assina os arranjos.
Com o repertório registrado em
"Tales of Wonder", Freelon entra
na mesma vereda visitada pela
também cantora Cassandra Wilson: a busca por temas pop que,
enriquecidos, podem virar alternativas aos abusivamente relidos
standards jazzísticos.
"A intenção original não era essa, mas é claro que procuro novos
standards, temas populares que
possam ser respeitados por puristas, embora eu não cante só para
eles. Vejo a música como um sistema fluido e conectado, independentemente dos propósitos do
marketing. Música é música, boa
ou não tão boa."
Por falar em marketing, Freelon
afirma que não se incomoda pelo
fato de cantoras brancas e menos
aparelhadas tecnicamente liderarem as paradas e as vendas de discos de jazz, mas suas idéias a respeito não escondem alfinetadas.
"Sou apenas uma cantora e
acho que essa coisa de mercado é
atribuição de outras pessoas. O
que posso dizer é que não me interessa muito esse hype todo sobre as moças. Do meu lado, eu
apenas sonho com uma longa e
interessante carreira, que me permita viver decentemente, gravar
CDs cheios de substância, viajar e
comer boa comida."
Apesar de ter visitado o Brasil
pela primeira vez há dois anos, ela
conta que não se lembra muito
bem da culinária daqui, que pretende explorar melhor.
Planos musicais para o futuro?
"Ando ouvindo muito a obra de
Thelonious Monk. Tenho um
projeto na cabeça de gravar um
CD apenas com composições dele. Não sei se vou conseguir. Por
enquanto, a empreitada parece
arriscada demais pra mim."
Além dos shows, a cantora
aproveita a visita para exercer a
segunda atividade de que mais
gosta: ensinar. Amanhã, das 11h
às 12h30, ela realiza um workshop
de canto e percussão para o grupo
Meninos do Morumbi.
O evento, fechado ao público,
acontece no Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado,
112, região central, tel. 3113-3600).
Mas, terminado o workshop, ela
faz, no mesmo local, uma apresentação aberta de meia hora.
"Gosto desse tipo de atividade,
pois sempre acabo aprendendo
com os jovens. Eles têm tanta
energia e, em muitos casos, estão
passando pelas experiências da
vida pela primeira vez, diferentemente de nós, adultos, que já vimos o mesmo filme várias e várias
vezes. Eles me ajudam a recuperar
o prazer das coisas simples."
NNENNA FREELON. Quando: hoje e
amanhã, às 22h. Onde: Bourbon Street
Music Club (r. dos Chanés, 127, Moema,
tel. 5561-1643). Quanto: de R$ 65 a R$
120.
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