São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2010

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Carmela Gross tem retrospectiva na Estação Pinacoteca

Mostra traz obras que exploram contraste entre linhas e estrutura do desenho e a presença de cor e volume

Estão expostos "Uma Casa", feita em néon, e desenhos da série "Projeto para a Construção de um Céu"


SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Na casa de Carmela Gross, a estrutura é de luz. Seus contornos são lâmpadas fluorescentes, hastes luminosas que dão forma à arquitetura de néon que flutua no espaço.
Quando desenha uma casa, o mais simples dos objetos, em linhas de luz, Gross transcende a dicotomia histórica entre desenho, como estrutura, e a representação da luz, com a volúpia da cor.
Talvez seja essa a síntese de toda a sua obra, agora em retrospectiva na Estação Pinacoteca. São trabalhos que, de uma forma ou de outra, tentam extrair o desenho do plano e transformar a linha pura em agente escultórico.
Sua casa de néon não cabe no próprio volume, desafia a ideia de contorno com um brilho emitido em ondas, anulando a perspectiva em prol de uma textura etérea, um tipo de ataque luminoso que deixa rastros na retina.
Artista que despontou no furacão do retorno à pintura nos anos 1980, Gross fez forte contraponto à ideia de matéria adensada sobre o plano, de gestual tortuoso. Chegou a construir um inventário de linhas, todas catalogadas e repetidas à exaustão, dispostas num arsenal da forma.
São armas que reaparecem em seus projetos para desenhar o céu, série de desenhos em que a transitoriedade das nuvens aparece controlada por pontos gráficos que tentam injetar ordem no caos, catálogo de linhas finas que, diante dos olhos, se traduz como universo.
E no plano real das coisas suas linhas viram vultos de forma. Têm o peso da matéria que desenham no espaço sem se misturar a ela.
Aquilo que à distância parece um tronco de árvore não passa de camadas sobrepostas de tecido, planos com a espessura da linha que dão ideia de volume ultradenso.
Ou diáfano. Sua montanha de véus negros é, ao mesmo tempo, um sólido no espaço, um buraco negro translúcido que joga para fora só a delicadeza das linhas.


CARMELA GROSS

QUANDO abertura hoje, às 11h, ter. a dom., 10h às 18h; até 7/11
ONDE Estação Pinacoteca (lgo. General Osório, 66, tel. 3335-4990)
QUANTO R$ 6, grátis sáb.




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