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São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2003

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27ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP

Diretor britânico trata da pena de morte em seu mais recente filme, " A Vida de David Gale", que tem exibição hoje na cidade

Alan Parker disfarça polêmica com thriller

David Appleby/Divulgação
Kate Winslett e Gabriel Mann em cena de "A Vida de David Gale", de Alan Parker, em cartaz hoje na programação da Mostra


MARCELO FORLANI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O diretor Alan Parker, 59, começou a entrevista com a Folha bem econômico nas palavras, quase monossilábico. O bate-papo só melhorou quando o futebol entrou na conversa. Como todo bom inglês, Parker é torcedor fanático e não perde um jogo do Arsenal, time dos brasileiros Gilberto Silva e Edu.
Com um currículo de 14 filmes realizados em mais de 20 anos de carreira, Parker pode se gabar de já ter passado pelos principais gêneros do cinema. Fez dramas ("Mississipi em Chamas", "Expresso da Meia-Noite"), musicais ("The Commitments"), flertou com o sobrenatural ("Coração Satânico") e agora mostra um thriller: "A Vida de David Gale", destaque da programação de hoje da Mostra BR de Cinema, estrelado por Kevin Spacey e Kate Winslett. "Este é o tipo de filme importante de fazer com um grande estúdio e mostrar para grandes audiências, pois se trata de uma história com conteúdo político que fala sobre algo sério, mas está disfarçada de thriller", diz.
Sobre o assunto principal do filme, a pena de morte, ele afirma: "Sou contra". O cineasta não foge das polêmicas, basta lembrar de quando enfrentou a fúria argentina nas filmagens de "Evita" em Buenos Aires. "Quando nós chegamos lá, havia cartazes dizendo "Madonna e Alan Parker, vão embora'", afirma.
Para justificar suas mudanças de estilo, Parker conta: "Gosto de fazer coisas diferentes porque nunca concordei com a filosofia francesa de fazer 20 versões do mesmo filme durante uma carreira". E, segundo ele, Hollywood não é tão dura quanto parece. "Eles me deixaram fazer os filmes que eu queria, nunca interferiram em nada", diz. Já sobre a indústria inglesa, fala com a propriedade de chefe do Conselho de Filmes local e participante do Instituto Britânico de Filmes (BFI). "Há dois tipos de indústria cinematográfica aqui. Uma que existe para servir Hollywood e fazer filmes como "Harry Potter", e outra completamente diferente, que produz os filmes independentes."

Dominação americana
Assim como nos EUA, os filmes não falados em inglês têm difícil aceitação no Reino Unido. "Nós não vemos filmes dublados, não faz parte da nossa cultura. E os filmes com legenda têm o estigma de serem filmes de arte, bem sérios, o que afasta muita gente. Acho que a audiência daqui precisa ser reeducada para aceitar filmes de outras culturas. Nós somos totalmente dominados pelos produtos americanos", diz.
Vindo da propaganda, Parker ganhou notoriedade já no seu primeiro longa, "Bugsy Malone", em que dirigiu uma Jodie Foster ainda teen. Como recompensa "pela ajuda ao cinema britânico", foi condecorado sir em 2002.
Ao cinema brasileiro, ele dá um conselho: "Há um mercado gigantesco aí, que deveria possibilitar a produção de mais filmes. Dessa quantidade vocês poderiam mostrar ao mundo ainda mais novos diretores de talento".
E, voltando ao futebol, dá para fazer um bom filme sobre o esporte? "Impossível. O futebol é apaixonante justamente porque não pode ser reproduzido. Os filmes que vi são falsos demais."


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