São Paulo, sábado, 04 de novembro de 2006

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"XL" faz crítica à padronização da cultura

Festejada na Europa, peça de Maria Clara Villa-Lobos, brasiliense radicada na Bélgica, chega ao país

RAQUEL COZER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O público de "XL, Because Size Does Matter" (GG, porque tamanho é documento) recebe um cardápio similar ao do McDonald's em vez do tradicional programa ao entrar no teatro. É o primeiro sintoma do que se verá nos 60 minutos subseqüentes da peça da brasiliense radicada na Bélgica Maria Clara Villa-Lobos, 34.
O espetáculo estreou em 2000, percorreu a França em 2004 -quando recebeu críticas generosas de jornais como o "Liberatión" e o "Le Figaro"- e agora aterrissa no Brasil. Será apresentado hoje e amanhã no Sesc Vila Mariana.
Uma espiada no menu esclarece que é possível escolher entre iguarias como os Pina Mac Nuggets, "envolvidos por uma cobertura psicológica crocante e acompanhados de molho expressionista à sua escolha", e o clássico Bejart Supreme, "hambúrguer sensual de movimentos neoclássicos acompanhados de molho "bejarmel" e salada multirracial". O público entende que pode fazer seus pedidos e ver os bailarinos dançar no estilo de Pina Bausch, Maurice Bejart ou qualquer outro "sabor" à disposição.
O "fast food artístico" é o ponto inicial da crítica que a coreógrafa faz à sociedade de consumo. "Nesse mundo em que somos obrigados a consumir muito e rápido, o percurso do artista é marcado pela imitação. E você tem produzir sempre. Se não produz, você não existe", diz a coreógrafa.
Um misto de dança, teatro e comédia musical, "XL" é "extra-large" também na elaboração. O cenário inclui carrinhos de supermercado, e, na trilha, debochada, sobressai uma interpretação falível da música-tema de "Fame" (1980). Na fábrica de padronização da cultura, tudo é reconhecível: "Just do it", dizem os cinco bailarinos, trajando roupões da Nike, após reverenciar, como quem ouve um hino, um clássico de Richard Clayderman.

Todos os tamanhos
A peça "XL" nasceu sozinha, ganhou uma continuação por acaso, virou trilogia e, agora, é tetra. "Depois que fiz o "XL", me propuseram fazer uma peça para crianças. Resolvi chamá-la de "XS" ["extra-small", o tamanho PP brasileiro]", diz a irmã do músico Dado Villa-Lobos (ex-Legião Urbana).
Depois, veio "M, an Average Piece" (2003), exibida em 2004 em São Paulo com o nome "M, uma Peça Mediana" e que, nos próximos dias, segue para Goiânia e para o Rio, no festival Panorama de Dança. Em 2005, estreou lá fora o "XXL, Because Big Is Beautiful" (extra-extra-large, porque grande é bonito), um solo para uma atriz obesa.


XL
Quando:
hoje, às 21h; amanhã, às 18h
Onde: Sesc Vila Mariana - teatro (r. Pelotas, 141, tel. 5080-3000)
Quanto: R$ 7,50 a R$ 20


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