|
Índice
TEATRO/CRÍTICA
Com simplicidade aparente, texto de Newton Moreno recebe tratamento artesanal de Márcio Aurélio
"Agreste" atinge essencialidade no palco
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"A noite era uma pergunta
difícil." Com essa linguagem densa e nua, nerudiana,
Newton Moreno dá provas de
grande maturidade teatral. A simplicidade aparente de sua peça
"Agreste" colhe no rústico, no regional nordestino, um mergulho
na história de um amor tão puro
que não encontra parâmetros para entender a si mesmo, e por isso
é esmagado pelo olhar dos outros.
Estruturando seu "causo" em
monólogo, Moreno não faz concessões ao teatro convencional: os
diálogos são sempre breves, em
meio à narrativa épica, com as
personagens definidas em detalhes de haicai. Um grande desafio
para o encenador, que tem o dilema de cair no monocórdio, por
excesso de despojamento, ou redundar na cena as imagens do
texto.
Um desafio perfeito para Márcio Aurélio e sua Companhia Razões Inversas, que, apesar de estar
há cinco anos longe dos palcos,
manteve intacta sua paixão artesã.
O golpe de mestre foi o de ter
posto os atores Paulo Marcello e
João Carlos Andreazza, durante
um bom tempo no início da peça,
imóveis diante de microfones,
conduzindo só pela voz o publico
à serenidade quase fatídica do
agreste. A partir disso, Márcio
constrói um espetáculo que sugere sem esgotar as muitas implicações do texto, mantendo a ambigüidade entre a evocação dos dados sócio-regionais com a dimensão poética de fábula, entre o
aqui-agora e o ancestral.
Sofisticado, com uma técnica
depurada a ponto de se tornar invisível, "Agreste" atinge uma essencialidade como raramente se
vê nos palcos.
Agreste
Texto: Newton Moreno
Direção: Márcio Aurélio
Com: Joca Andreazza, Paulo Marcello
Onde: teatro Cacilda Becker (r. Tito, 295,
Lapa, tel. 3864-4513)
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h
Quanto: R$ 10
Índice
|