São Paulo, quinta-feira, 05 de fevereiro de 2004

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TEATRO/CRÍTICA

Com simplicidade aparente, texto de Newton Moreno recebe tratamento artesanal de Márcio Aurélio

"Agreste" atinge essencialidade no palco

SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

"A noite era uma pergunta difícil." Com essa linguagem densa e nua, nerudiana, Newton Moreno dá provas de grande maturidade teatral. A simplicidade aparente de sua peça "Agreste" colhe no rústico, no regional nordestino, um mergulho na história de um amor tão puro que não encontra parâmetros para entender a si mesmo, e por isso é esmagado pelo olhar dos outros.
Estruturando seu "causo" em monólogo, Moreno não faz concessões ao teatro convencional: os diálogos são sempre breves, em meio à narrativa épica, com as personagens definidas em detalhes de haicai. Um grande desafio para o encenador, que tem o dilema de cair no monocórdio, por excesso de despojamento, ou redundar na cena as imagens do texto.
Um desafio perfeito para Márcio Aurélio e sua Companhia Razões Inversas, que, apesar de estar há cinco anos longe dos palcos, manteve intacta sua paixão artesã.
O golpe de mestre foi o de ter posto os atores Paulo Marcello e João Carlos Andreazza, durante um bom tempo no início da peça, imóveis diante de microfones, conduzindo só pela voz o publico à serenidade quase fatídica do agreste. A partir disso, Márcio constrói um espetáculo que sugere sem esgotar as muitas implicações do texto, mantendo a ambigüidade entre a evocação dos dados sócio-regionais com a dimensão poética de fábula, entre o aqui-agora e o ancestral.
Sofisticado, com uma técnica depurada a ponto de se tornar invisível, "Agreste" atinge uma essencialidade como raramente se vê nos palcos.


Agreste
    
Texto: Newton Moreno
Direção: Márcio Aurélio
Com: Joca Andreazza, Paulo Marcello
Onde: teatro Cacilda Becker (r. Tito, 295, Lapa, tel. 3864-4513)
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h
Quanto: R$ 10



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