São Paulo, segunda-feira, 05 de fevereiro de 2007 |
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Crítica/cinema/"À Procura da Felicidade" Dirigido por italiano, drama com Will Smith se apóia na auto-ajuda
SÉRGIO RIZZO CRÍTICO DA FOLHA Está em alta o prestígio do cineasta italiano Gabriele Muccino em Hollywood. Seu "O Último Beijo" (2001) foi refilmado em 2006 pelo ator e diretor Tony Goldwyn ("Ghost"), com roteiro de Paul Haggis ("Crash", "A Conquista da Honra"), elenco liderado por Zach Braff ("Hora de Voltar") e resultado apenas discreto. Já a estréia de Muccino nos EUA, em "À Procura da Felicidade", lhe confiou um dos mais populares astros do país no momento, Will Smith, em projeto familiar no qual aparece também o filho do ator, Jaden Smith, e que superou US$ 150 milhões em bilheteria. O que faz um italiano no meio disso tudo? Em primeiro lugar, aparenta compreender como funcionam os veículos hollywoodianos para gente com o poder de atrair multidões. O filme é um tapete vermelho para o solo de Smith, que obteve pelo papel sua segunda indicação ao Oscar (a primeira foi por "Ali"). O protagonista, pai de família que sonha enriquecer com um aparelho de uso médico patenteado por ele, vai parar quase na sarjeta em companhia do filho. Para reforçar o sentimentalismo, o carimbo de "história verídica": o roteiro de Steve Conrad ("O Homem do Tempo") se baseia no best-seller autobiográfico de Chris Gardner, hoje um milionário do mercado financeiro. Eis, portanto, história manjada de ressurreição que se sustenta em valores-chave do individualismo americano, habilidosamente traduzidos, em forma de empreendedorismo, pelo manancial da literatura de auto-ajuda -com a qual o filme, não por acaso, se confunde. Perdedores são aqueles que desistem, diria o personagem de Greg Kinnear em "Pequena Miss Sunshine". Pois Chris (Smith) não desiste jamais, ainda que a mulher (Thandie Newton, de "Assédio" e "Crash") jogue cedo a toalha, e que haja uma criança a sustentar e a educar no meio do caos. Esses elementos recorrentes no cinema norte-americano se inserem em cenário um pouco mais raro de ver -e a ênfase dada a ele talvez se relacione à pitada de "realismo" de Muccino. São bicudos os tempos em que se passa a provação do personagem, os EUA da era Reagan, com recessão econômica e elevados índices de desemprego. Não é Chris o único responsável pela situação que vive, assim como as centenas de marmanjos que disputam com ele e o filho, em pico sentimental do filme, um lugar para dormir em um albergue de São Francisco. E, ainda que ele seja um obstinado, está bem claro que o acaso lhe dá empurrões -e que a graça, como se sabe, não tem como beneficiar a todos. Estado falido e indiferente, cidadãos lançados à própria sorte: essas coordenadas tornam "À Procura da Felicidade" um drama engrandecedor cujo protagonista, no fundo, é o dinheiro, o que explica por que tanta gente se identifica com a dificuldade de Chris em ter algo na carteira além de esperança. À PROCURA DA FELICIDADE Direção: Gabriele Muccino Produção: EUA, 2006 Com: Will Smith, Jaden Smith, Thandie Newton Quando: em cartaz nos cines Eldorado, Kinoplex Itaim e circuito Próximo Texto: Mostra de estudantes da Faap se expande em interferências por SP Índice |
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