São Paulo, terça-feira, 05 de fevereiro de 2008

Próximo Texto | Índice

Dicionários recorrem a incentivos

Lei Rouanet é usada por editores do "Houaiss" e do "Caldas Aulete" na captação de recursos para realizar atualizações

"Caldas Aulete" aceita sugestões de novas palavras feitas por leitores; reforma ortográfica influencia as atualizações

Rafael Andrade/Folha Imagem
Mauro Vilar, diretor do Instituto Houaiss, que captou R$ 732 mil por meio da Lei Rouanet para fazer a atualização do dicionário


MARIANA BOTTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Diferentemente de outros países, como França e Inglaterra, que lançam todos os anos edições atualizadas de seus dicionários, no Brasil o mercado lexicográfico anda a passos lentos. A chegada ao mercado de edições com o acréscimo de novas palavras pode demorar quase dez anos.
A última edição do "Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa" (Objetiva) é de 2001 e teve uma reimpressão atualizada em 2004, mesmo ano em que saiu o "Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa" (Positivo). Já o "Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa" teve a última edição publicada em 2006. A última reedição impressa do "Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa Caldas Aulete" é de 1987.
"O ideal seria fazer uma atualização a cada cinco anos, pois a língua se transforma, e as palavras perdem ou mudam de sentido enquanto outras são criadas. Um dicionário tem mais de 60 milhões de caracteres, e o ganho com as vendas não cobre os custos", diz Mauro Villar, diretor do Instituto Houaiss e co-autor do dicionário "Houaiss".
Para tentar resolver o problema da atualização, o instituto recorreu à Lei Rouanet e teve aprovada a captação de até R$ 732.433, segundo o Ministério da Cultura. "Falta resolvermos algumas questões burocráticas. Trabalhamos na segunda edição desde que a primeira foi publicada; é um processo longo e lento, mas creio que será possível lançar em 2009", completa.
Quem também recorreu à lei de incentivo à cultura é a editora Lexikon, que em 2004 comprou os direitos do dicionário Caldas Aulete e obteve autorização de captação de recursos de cerca de R$ 750 mil, porém com proposta diferente da do Instituto Houaiss. "A idéia de fazermos um dicionário on-line está relacionada ao fato de se tratar de uma obra aberta e viva, que necessita de constante atualização. O projeto também corresponde à nossa intenção de inclusão social, pois os grandes dicionários impressos são apenas para uma elite", afirma o editor Paulo Geiger.
No ar desde agosto de 2007, a versão on-line do Caldas Aulete pode ser baixada gratuitamente e conta com 280 mil palavras. "O que mais nos anima é que já tivemos mais de 400 mil downloads desde 15 de agosto. Até dezembro, registramos uma média de quase 100 mil downloads por mês. Esperamos chegar a 1 milhão de usuários até o final deste ano."

Nas ruas
"Quem faz a língua é o povo nas ruas, não é a Academia, são as diversas tribos e grupos sociais que consolidam ou não determinado uso", afirma Geiger. Por isso, além de contar com uma equipe de lexicógrafos e de usar como base para atualizações textos literários e publicações da imprensa nacional, a editora Lexikon incentiva a participação dos próprios usuários na indicação de novos verbetes a serem incluídos.
Mesmo sem a abertura para a colaboração popular, os outros grandes dicionários brasileiros também se baseiam em um corpus de língua escrita para realizar suas atualizações.
"Usamos livros contemporâneos, jornais, revistas e até bulas de remédio. As palavras novas, que não constam na edição anterior e que aparecem num maior número de vezes nesses textos são as que incluiremos na atualização", diz Villar.
Para Vitória Rodrigues e Silva, gerente editorial da editora Positivo, responsável pelo "Aurélio", um dos critérios para a inclusão de novas entradas é a sedimentação do uso. "Um dicionário não pode viver de modismos, nosso trabalho tem como base textos jornalísticos e literários, e as gírias acabam entrando por meio dos textos de críticos e cronistas."
Além da competitividade, o impasse sobre a assinatura do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa -que deveria ser implantado neste ano- também fez coincidir a previsão de lançamento das novas edições dos quatro dicionários. "A reforma ortográfica é decisiva para as decisões editoriais", disse Rodrigues e Silva, da Positivo.

Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.