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Crítica/"Quart4 B"
Artificialismo tira força de filme sobre maconha
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Em "Procura Insaciável"
(1971), o primeiro filme
realizado nos Estados
Unidos pelo tcheco Milos Forman ("Um Estranho no Ninho"), um casal de pais preocupados procura entender por que a filha fugiu de casa.
Em uma seqüência antológica, os dois participam de reunião em que diversos pais experimentam maconha para tentar compreender por que ela
atrai seus filhos.
O filme é uma produção preciosa, entre outros aspectos,
por espelhar o caldeirão de
transformações comportamentais do período, com ênfase em adultos conservadores
que parecem perdidos no redemoinho da contracultura.
"Quart4 B" é um parente distante de "Procura Insaciável",
tanto ao falar de maconha
quanto ao refletir o patamar
em que se encontra o debate
sobre o assunto, e também sobre aspectos comportamentais
correlatos, na sociedade da
qual ele se origina, o Brasil urbano e pequeno burguês dos
anos 2000.
Domingo chuvoso, final de
tarde em uma escola particular
de São Paulo. Convocados pelo
diretor, os pais dos alunos de
uma turma de quarta série do
ensino fundamental se reúnem
para examinar um problema
insólito: um tijolo de maconha
foi encontrado na sala pelo faxineiro, que também está presente.
Não será uma conversa fácil.
Em boa parte do tempo, nem
mesmo será conversa: basta
que seja apresentado o motivo
da reunião para que se inicie o
confronto de diferentes pontos
de vista sobre maconha, filhos,
escola e vida.
Produzida pelo roteirista, diretor e montador Marcelo Galvão em regime de "guerrilha",
com apenas R$ 30 mil e em suporte digital, essa experiência
de confinamento mantém um
pé no registro mais cru e naturalista, com uso de câmera na
mão e um certo grau de improvisação no trabalho com os atores.
O outro pé, no entanto, está
fincado no artificialismo, a começar pelo desenho dos personagens: estão quase todos ali na
qualidade de representantes de
grupos ou de teses.
Os diálogos e o desenvolvimento da ação, por conseqüência, vão pouco a pouco caminhando em direção à farsa, sem que haja uma definição clara
por ela. Nos créditos, a explicação que soa quase como um pedido de desculpas: o objetivo
não foi o de fazer apologia das
drogas. Se o filme precisa se explicar, talvez acredite que não
seja entendido. Ou que, no Brasil de hoje, a ambigüidade seja
um caminho arriscado.
QUART4 B
Direção: Marcelo Galvão
Produção: Brasil, 2005
Com: César Birindelli, Cristiano
Cochrane, Déto Montenegro
Quando: em cartaz na Sala Maria
Antonia
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