São Paulo, segunda-feira, 05 de março de 2007

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Crítica/"Quart4 B"

Artificialismo tira força de filme sobre maconha

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Em "Procura Insaciável" (1971), o primeiro filme realizado nos Estados Unidos pelo tcheco Milos Forman ("Um Estranho no Ninho"), um casal de pais preocupados procura entender por que a filha fugiu de casa.
Em uma seqüência antológica, os dois participam de reunião em que diversos pais experimentam maconha para tentar compreender por que ela atrai seus filhos.
O filme é uma produção preciosa, entre outros aspectos, por espelhar o caldeirão de transformações comportamentais do período, com ênfase em adultos conservadores que parecem perdidos no redemoinho da contracultura.
"Quart4 B" é um parente distante de "Procura Insaciável", tanto ao falar de maconha quanto ao refletir o patamar em que se encontra o debate sobre o assunto, e também sobre aspectos comportamentais correlatos, na sociedade da qual ele se origina, o Brasil urbano e pequeno burguês dos anos 2000.
Domingo chuvoso, final de tarde em uma escola particular de São Paulo. Convocados pelo diretor, os pais dos alunos de uma turma de quarta série do ensino fundamental se reúnem para examinar um problema insólito: um tijolo de maconha foi encontrado na sala pelo faxineiro, que também está presente. Não será uma conversa fácil.
Em boa parte do tempo, nem mesmo será conversa: basta que seja apresentado o motivo da reunião para que se inicie o confronto de diferentes pontos de vista sobre maconha, filhos, escola e vida.
Produzida pelo roteirista, diretor e montador Marcelo Galvão em regime de "guerrilha", com apenas R$ 30 mil e em suporte digital, essa experiência de confinamento mantém um pé no registro mais cru e naturalista, com uso de câmera na mão e um certo grau de improvisação no trabalho com os atores.
O outro pé, no entanto, está fincado no artificialismo, a começar pelo desenho dos personagens: estão quase todos ali na qualidade de representantes de grupos ou de teses.
Os diálogos e o desenvolvimento da ação, por conseqüência, vão pouco a pouco caminhando em direção à farsa, sem que haja uma definição clara por ela. Nos créditos, a explicação que soa quase como um pedido de desculpas: o objetivo não foi o de fazer apologia das drogas. Se o filme precisa se explicar, talvez acredite que não seja entendido. Ou que, no Brasil de hoje, a ambigüidade seja um caminho arriscado.


QUART4 B  
Direção:
Marcelo Galvão
Produção: Brasil, 2005
Com: César Birindelli, Cristiano Cochrane, Déto Montenegro
Quando: em cartaz na Sala Maria Antonia


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