São Paulo, sábado, 05 de março de 2011 |
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CRÍTICA DANÇA Key Zetta e Cia. constrói vácuo a partir de Samuel Beckett FLÁVIA COUTO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA A pesquisa artística do espetáculo "SÓS", da Key Zetta e Cia., começa nos textos "Fim de Partida" e "Primeiro Amor", de Samuel Beckett (1906-1989). Imersos nessa escrita, os seis criadores-intérpretes encontram literalmente o ritmo de sua dança. O trabalho fala sobre a condição humana e subjetiva de estar só. Pode-se dizer que isso gera o sentimento de solidão presente, de modo mais gritante, nos habitantes dos grandes centros urbanos. E, inevitavelmente, o trabalho aponta para essa condição em relação à dança contemporânea. QUESTÃO DE LINGUAGEM A dança está em um estado de constante transformação, em que os seus limites são com frequência expostos e questionados. A linguagem específica da dança se tornou diversificada e, por vezes, esbarra em dificuldades de repercussão, assim como em barreiras que dificultam a apreciação por parte do público comum. Para que fique claro, entenda-se como "público comum" a grande parcela da população que tem muito mais intimidade com a linguagem televisiva e com a internet do que com a linguagem cênica desenvolvida nos palcos. DESLIZAMENTO De maneira processual, os caminhos da dança contemporânea começam e chegam ao seu fim com cada trabalho desenvolvido. Porém é um fim que significa uma nova partida, um deslizamento, uma continuação para algo que está por vir. É esse tipo de fim cíclico e vital que a Key Zetta e Cia. deixa enfatizado. Sem dar respostas, a coreografia, dirigida por Key Sawao e Ricardo Iazzetta, lança um olhar autoral sobre a solidão tão comum ao nosso tempo. Os autores acabam por se mostrar também solitários, os criadores-intérpretes quase em nenhum momento se tocam ou se olham em cena. "SÓS" não se mostra nem triste nem desesperado por estar só. Propõe, sim, um vácuo, uma interrogação à luz da dança que nos apresenta. A mesma interrogação que provavelmente paira na cabeça daqueles que se perguntam sobre os futuros limiares que os artistas de dança almejam tocar. SÓS AVALIAÇÃO regular Texto Anterior: "Além do Ponto" escapa dos clichês e transforma amor em ato de resistência Próximo Texto: Teatro 1: Peça "A Senhora de Dubuque" encerra temporada amanhã Índice | Comunicar Erros |
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