São Paulo, quinta-feira, 05 de maio de 2011

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CRÍTICA MÚSICA ERUDITA

Meneses se esmera em "standards" de Bach

Apresentação do violoncelista pernambucano inaugurou temporada 2011 dos Concertos Cultura Artística Itaim


PARA ELE, CONTAM A PERFEIÇÃO E A ELEGÂNCIA; SUA ARTE NÃO TEM EXCESSOS


Adriano Vizoni/Folhapress
O violoncelista Antonio Meneses conversa com o público em concerto da última terça

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

É possível estabelecer analogias entre a execução de obras canônicas por um violoncelista como Antonio Meneses e a abordagem de um "standard" por um experiente músico de jazz: em ambos os casos sabe-se o que vai ser tocado, mas não como.
Naturalmente o ponto de partida da música clássica - a partitura- carrega um conjunto de indicações que, ao contrário do jazz, definem a obra com precisão; mas sobra, ainda, um espaço amplo para variações na dicção das frases, nas mudanças de andamento e dinâmica, no corpo do próprio som: são os improvisos do concertista.
O cellista pernambucano inaugurou a temporada 2011 dos Concertos Cultura Artística Itaim com recital solo. O programa incluiu dois "standards" do repertório do instrumento: as suítes nº 1 e nº 3 escritas por Johann Sebastian Bach (1685-1750).
Valores que contam para Meneses são a perfeição e a elegância. Não busca a transcendência pela sutileza nem a energia incontida: sua arte não tem excessos e, ao fecharmos os olhos durante uma apresentação como a de anteontem, parece que estamos escutando um CD.
Sua mão esquerda tem firmeza e precisão matemática, enquanto a direita traça com o arco o desenho do estilo. Ele empresta às obras sua impecabilidade técnica, à espera de que elas lhe retribuam momentos de prazer -como o "Menuet II" da "Suíte nº 1".

CONDUÇÃO OUSADA
Antes da "Suíte nº 3", o genial "Preambulum" escrito pelo brasileiro Almeida Prado (1943-2010) especialmente para desembocar no "Prelúdio" em dó maior de Bach. Composta em 2004, a obra havia sido encomendada pelo próprio Meneses.
Almeida antecipa os gestos da suíte barroca, mas evita quaisquer literalidades. Tudo está lá: sequências de acordes, a forma de ocupar o espaço sonoro, ritmo cambiante, ressonâncias, pressupostos harmônicos -e até uma nostalgia brasileira, com a qual a música de Bach jamais sonharia.
Meneses conduziu a suíte com ousadia, tendo como pontos de apoio a "Courante" e as "Bourrées". O efeito das notas pedais soando com a melodia aguda na "Gigue" -ré na primeira parte, sol na segunda- parecia querer voltar para a introdução de Almeida Prado.
Outra suíte para violoncelo solo, escrita pelo catalão Gaspar Cassadó (1897-1966) encerrou o programa. O virtuosístico prelúdio lembra a "Sonata op.8", do húngaro Zoltán Kodály (1882-1967), enquanto que os dois movimentos finais incorporam danças espanholas.
Bach foi o centro, e tanto Cassadó quanto Almeida Prado foram convocados para sondá-lo. Sozinho com o seu cello, Meneses assumiu todos os riscos.

SUÍTES Nº 1 E Nº 3, DE BACH

AVALIAÇÃO bom

SUÍTES DE FRANZ LISZT

QUANDO segunda, às 21h
ONDE Sociedade de Cultura Artísitca Itaim (av. Presidente Juscelino Kubitschek, 1.830, tel. 3258-3344)
QUANTO R$ 30
CLASSIFICAÇÃO livre


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