São Paulo, sábado, 05 de julho de 2008

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Com "Otelo", Vilela busca ruína contemporânea

Em comparação a "Hamlet", Shakespeare "enriqueceu a carpintaria" em "Otelo", diz ator

Para Diogo Vilela, que atua, produz e co-dirige a peça, melodrama social retratado na tragédia tornou-se uma temática atual

Henrique Manreza/Folha Imagem
Marcelo Escorel (Otelo) e Diogo Vilela (Iago) em ensaio de "Otelo', tragédia de Shakespeare em cartaz no teatro Raul Cortez


DA REPORTAGEM LOCAL

Se é de dúvidas e hesitações a jornada do Hamlet que tem lotado o teatro Faap, uma só certeza -fria e torpe- move o alferes Iago, antagonista de outro clássico de William Shakespeare (1564-1616), "Otelo": o desejo de destruir o mouro que comanda com bravura o exército de Veneza e ainda conquista o amor da bela Desdêmona.
Liderada por Diogo Vilela, uma montagem carioca da tragédia chega a São Paulo neste fim de semana. Além de atuar, ele co-dirige (com Marcus Alvisi) e produz. "É um melodrama social. A coisa de um arruinar a vida do outro se tornou contemporânea. Ficamos com o escrúpulo diferenciado a partir do momento em que conseguimos ter, na internet, um isolamento do caráter", diz ele.
O ator destaca a ambigüidade, o caráter não-maniqueísta do texto. Mas os impulsos de morte que só latejam no Hamlet do alto deste texto estão explícitos em Iago, não? "A envergadura dos personagens é diferente. Em "Hamlet", Shakespeare ainda estava trabalhando reis e rainhas. Em "Otelo", individualizou psicologicamente mais os personagens, parou de lidar com batalhas, conquistas e fantasmas para tratar de oposições, oprimido e opressor. Foi enriquecendo a carpintaria", avalia.
Para Vilela, Iago "poderia ser um cara moderno, que talvez fosse considerado esperto, um vencedor, não se sabe, pois a humanidade mudou muito do ponto de vista moral, mas a realidade filosófica continuou".

Era medievalesca
Com a estréia de "Otelo", são pelo menos três as peças de Shakespeare em cartaz na cidade -além de "Hamlet", há "A Megera Domada" do Ornitorrinco. Vilela assim explica a onipresença do inglês:
"Acredito no inconsciente coletivo. Acho que estamos vivendo uma era meio medievalesca, um começo de século com uma violência que tem um requinte de tecnologia. Não digo que isso a piore, mas lhe dá uma outra sensação. Essas circunstâncias atraíram as pessoas a fazer Shakespeare. Virou um escritor de novela." Independentemente do texto, a chave para se montar bem Shakespeare é, nas palavras do ator, "não intelectualizar muito, vibrar na energia da obra".
Em São Paulo, Marcelo Escorel substitui Luciano Quirino no papel-título. Os personagens Rodrigo, Miguel Cássio e Bianca também são defendidos por novos atores, o que forçou o elenco a retomar, de dois meses para cá, ensaios diários de até dez horas. "É um bonde, um espetáculo imenso [2h40 de duração]", justifica Vilela. O ator já tem planos para quando "Otelo" lhe der descanso: foi convidado a fazer um musical em 2009. "Todo mundo me pede para fazer solo cômico, mas sempre vou na contramão. Quero criar um repertório no teatro." (LUCAS NEVES)


OTELO
Quando:
sex. e sáb, às 21h; dom., às 18h; até 31/8
Onde: teatro Raul Cortez (r. Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista, tel. 3188-4141); classificação 14 anos
Quanto: R$ 60 (sex. e dom.) e R$ 70 (sáb.)


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