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Com "Otelo", Vilela busca ruína contemporânea
Em comparação a "Hamlet", Shakespeare "enriqueceu a carpintaria" em "Otelo", diz ator
Para Diogo Vilela, que atua, produz e co-dirige a peça, melodrama social retratado na tragédia tornou-se
uma temática atual
Henrique Manreza/Folha Imagem
| Marcelo Escorel (Otelo) e Diogo Vilela (Iago) em ensaio de "Otelo', tragédia de Shakespeare em cartaz no teatro Raul Cortez |
DA REPORTAGEM LOCAL
Se é de dúvidas e hesitações a
jornada do Hamlet que tem lotado o teatro Faap, uma só certeza -fria e torpe- move o alferes Iago, antagonista de outro
clássico de William Shakespeare (1564-1616), "Otelo": o desejo de destruir o mouro que comanda com bravura o exército
de Veneza e ainda conquista o
amor da bela Desdêmona.
Liderada por Diogo Vilela,
uma montagem carioca da tragédia chega a São Paulo neste
fim de semana. Além de atuar,
ele co-dirige (com Marcus Alvisi) e produz. "É um melodrama
social. A coisa de um arruinar a
vida do outro se tornou contemporânea. Ficamos com o
escrúpulo diferenciado a partir
do momento em que conseguimos ter, na internet, um isolamento do caráter", diz ele.
O ator destaca a ambigüidade, o caráter não-maniqueísta
do texto. Mas os impulsos de morte que só latejam no Hamlet do alto deste texto estão explícitos em Iago, não? "A envergadura dos personagens é diferente. Em "Hamlet",
Shakespeare ainda estava trabalhando reis e rainhas. Em
"Otelo", individualizou psicologicamente mais os personagens, parou de lidar com batalhas, conquistas e fantasmas para tratar de oposições, oprimido e opressor. Foi enriquecendo a carpintaria", avalia.
Para Vilela, Iago "poderia ser
um cara moderno, que talvez
fosse considerado esperto, um
vencedor, não se sabe, pois a
humanidade mudou muito do
ponto de vista moral, mas a realidade filosófica continuou".
Era medievalesca
Com a estréia de "Otelo", são
pelo menos três as peças de
Shakespeare em cartaz na cidade -além de "Hamlet", há "A
Megera Domada" do Ornitorrinco. Vilela assim explica a
onipresença do inglês:
"Acredito no inconsciente
coletivo. Acho que estamos vivendo uma era meio medievalesca, um começo de século
com uma violência que tem um
requinte de tecnologia. Não digo que isso a piore, mas lhe dá
uma outra sensação. Essas circunstâncias atraíram as pessoas a fazer Shakespeare. Virou
um escritor de novela."
Independentemente do texto, a chave para se montar bem
Shakespeare é, nas palavras do
ator, "não intelectualizar muito, vibrar na energia da obra".
Em São Paulo, Marcelo Escorel substitui Luciano Quirino
no papel-título. Os personagens Rodrigo, Miguel Cássio e
Bianca também são defendidos
por novos atores, o que forçou o
elenco a retomar, de dois meses
para cá, ensaios diários de até
dez horas. "É um bonde, um espetáculo imenso [2h40 de duração]", justifica Vilela.
O ator já tem planos para
quando "Otelo" lhe der descanso: foi convidado a fazer um
musical em 2009. "Todo mundo me pede para fazer solo cômico, mas sempre vou na contramão. Quero criar um repertório no teatro."
(LUCAS NEVES)
OTELO
Quando: sex. e sáb, às 21h; dom., às
18h; até 31/8
Onde: teatro Raul Cortez (r. Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista, tel.
3188-4141); classificação 14 anos
Quanto: R$ 60 (sex. e dom.) e R$ 70
(sáb.)
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