"O Cavalo Branco", em cartaz em SP com cópia restaurada

CRÍTICO DA FOLHA

Em um texto essencial de André Bazin, no qual ele examina o papel da montagem nos filmes dirigidos por Albert Lamorisse, o crítico e teórico francês utiliza o termo "documentário imaginário" para descrevê-los.
O diretor usou truques de câmera e manipulação de objetos para assegurar a companhia que o balão faz ao garoto em "O Balão Vermelho" e recorreu à semelhança de dois animais para retratar a duplicidade de comportamentos em "O Cavalo Branco". Em ambos, a presença da imagem do balão ou do cavalo junto aos personagens humanos no mesmo espaço nos assegura de sua realidade. Ela é vista, não imaginada.
É esta simultaneidade de verdade, valores e magia o que mais assombra ainda hoje nos filmes de Lamorisse. A vida campestre de um garoto e as peripécias urbanas do pequeno Pascal, capturadas em sua autenticidade, revelam antes de tudo um modo de ver o mundo com inocência. Nelas, o efeito buscado de fábula moral nunca se sobrepõe ao encantamento mesmo dos objetos e animais, com sua beleza explorada na forma dos movimentos.
Trata-se de fazer do cinema um aparato para alcançar uma espécie de "graça natural", um realismo que não se satisfaz no truque nem no ilusionismo dos efeitos especiais.
Longe das quimeras de parques de diversão, aqui é a vida que resgata seus momentos de encanto. (CSC)