São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009

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Crítica/"Casamento Silencioso"


Diretor romeno opõe cinza do terror soviético ao colorido balcânico

Divulgação
Meda Andreea Victor e Alexandru Potocean são Mara e Iancu, cujo casamento mobiliza a aldeia

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

"Casamento Silencioso" chega na esteira de um momento de ebulição do cinema romeno registrado em festivais e cuja presença no circuito de exibição já deixou de ser imperceptível. Só que, comparado à inventividade e força reveladora vistas em títulos como "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" ou "A Leste de Bucareste", o filme que estreou na última sexta pertence a outro tempo e a outra estética.
O diretor estreante Horatiu Malaele também não integra a geração emergente de Cristi Puiu, Cristian Mungiu e Catalin Mitulescu, cujas obras dialogam com a histórica queda do regime de Ceausescu e com a desorientação provocada pela nau sem rumo do neoliberalismo na qual o país embarcou.
Nascido nos anos 50, Horatiu Malaele percorreu longa trajetória como ator e, ao chegar ao cinema, sua vontade é de acertar contas com outro passado, o da dominação russa.
"Casamento Silencioso" é uma reconstrução metafórica (que para alguns parecerá demasiado óbvia) desse passado sob a sombra do totalitarismo, mais uma vez retratado como anulação de diferenças, supressão de identidades e, sobretudo, proibição de alegrias.
Ao cinza do terror soviético o filme opõe o colorido balcânico, que se expressa em musicalidade, humor e sexualidade transbordantes. Tal vitalidade se encarna na libidinosa relação livre dos jovens Mara e Iancu, logo encaminhada para as bodas em que toda a aldeia se reúne para expressar seu júbilo, a despeito de um poder sempre ameaçador desta "autenticidade". A morte do "camarada Stálin", bem no dia do casamento, impede a festa e simboliza o terror que cala, persegue, ameaça e elimina a vida.
A opção feita no filme por contrastes tão marcados entre morte e vida, terror e liberdade, violência e sexualidade conduz suas representações para o terreno da caricatura. Situações e personagens ganham em demasia a aparência de efeito circense, de folclore cigano, que sem dúvida são da cultura romena, mas não a resumem.
O diretor estreante, movido pela vontade de impressionar, ainda sobrecarrega tudo isso com efeitos e excesso de influências (como os tipos de Kusturica, o silêncio de "O Baile" de Scola, as caricaturas humanas de "Amarcord").
Por mais que proporcione momentos de prazer e de humor, graças também a um time empolgadíssimo de intérpretes, "Casamento Silencioso" não agrega mais nada que o faça grudar na memória.

Avaliação: regular

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