São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009 |
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Crítica/"Casamento Silencioso" Diretor romeno opõe cinza do terror soviético ao colorido balcânico
CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA "Casamento Silencioso" chega na esteira de um momento de ebulição do cinema romeno registrado em festivais e cuja presença no circuito de exibição já deixou de ser imperceptível. Só que, comparado à inventividade e força reveladora vistas em títulos como "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" ou "A Leste de Bucareste", o filme que estreou na última sexta pertence a outro tempo e a outra estética. O diretor estreante Horatiu Malaele também não integra a geração emergente de Cristi Puiu, Cristian Mungiu e Catalin Mitulescu, cujas obras dialogam com a histórica queda do regime de Ceausescu e com a desorientação provocada pela nau sem rumo do neoliberalismo na qual o país embarcou. Nascido nos anos 50, Horatiu Malaele percorreu longa trajetória como ator e, ao chegar ao cinema, sua vontade é de acertar contas com outro passado, o da dominação russa. "Casamento Silencioso" é uma reconstrução metafórica (que para alguns parecerá demasiado óbvia) desse passado sob a sombra do totalitarismo, mais uma vez retratado como anulação de diferenças, supressão de identidades e, sobretudo, proibição de alegrias. Ao cinza do terror soviético o filme opõe o colorido balcânico, que se expressa em musicalidade, humor e sexualidade transbordantes. Tal vitalidade se encarna na libidinosa relação livre dos jovens Mara e Iancu, logo encaminhada para as bodas em que toda a aldeia se reúne para expressar seu júbilo, a despeito de um poder sempre ameaçador desta "autenticidade". A morte do "camarada Stálin", bem no dia do casamento, impede a festa e simboliza o terror que cala, persegue, ameaça e elimina a vida. A opção feita no filme por contrastes tão marcados entre morte e vida, terror e liberdade, violência e sexualidade conduz suas representações para o terreno da caricatura. Situações e personagens ganham em demasia a aparência de efeito circense, de folclore cigano, que sem dúvida são da cultura romena, mas não a resumem. O diretor estreante, movido pela vontade de impressionar, ainda sobrecarrega tudo isso com efeitos e excesso de influências (como os tipos de Kusturica, o silêncio de "O Baile" de Scola, as caricaturas humanas de "Amarcord"). Por mais que proporcione momentos de prazer e de humor, graças também a um time empolgadíssimo de intérpretes, "Casamento Silencioso" não agrega mais nada que o faça grudar na memória. Avaliação: regular Índice |
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