São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2001

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Mosteiro de São Bento faz 403 anos, e beneditinos mostram CD de canto gregoriano

Monges a capela

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Monges beneditinos rezam, cantando em gregoriano, durante as vésperas (última oração do dia antes de o sol se pôr); CD é o quinto registro fonográfico do coro



Religiosos também gravaram canções judaicas com Fortuna, numa união, pela música, das duas religiões


DEMETRIUS CAESAR
DA REDAÇÃO

Seguindo a tradição, o Mosteiro de São Bento comemora hoje seus 403 anos. A missa solene acontece às 16h45, na abadia do lugar, com apresentação de cantos gregorianos gravados pelos 35 monges beneditinos no CD "Cantus Selecti" -álbum produzido pela cantora de origem judaica Fortuna.
O aniversário da fundação do prédio é, na verdade, amanhã, segunda-feira, dia 6, mas esse tipo de cerimônia começa no dia anterior, conforme a tradição da Igreja Católica. O atual prédio, que está sendo festejado, é a terceira construção, no mesmo local, do mosteiro. A última reforma -que derrubou o antigo edifício e deu ao local as dimensões que tem hoje- foi feita em 1922, tendo sido consagrada na época. A partir disso a data de fundação do mosteiro é celebrada todo ano.
Hoje, os 35 monges rezam acompanhados pelo organista Selmar Marques. Eles são dirigidos por dom Rocco Fraioli, 39, mestre de coro e primeiro cantor, além de responsável por parte do repertório do CD. Como só cabem 600 pessoas na abadia, convém chegar mais cedo para conseguir lugar.
O disco é o quinto produto fonográfico dos beneditinos paulistanos. Em 1991, eles gravaram um primeiro CD com cantos gregorianos, antes, portanto, do boom visto em 1995 e 1996, quando álbuns de canto gregoriano bateram recordes de venda.
Em 1998, em comemoração dos 400 anos do mosteiro, gravaram o segundo CD, com músicas de Natal. Dois anos depois, nos 500 anos do Descobrimento do Brasil, gravaram um terceiro, apenas instrumental, exclusivamente com repertório composto por organistas latino-americanos.
O mosteiro é palco, anualmente, de um festival de órgão. Este ano ele deve acontecer em outubro, com os EUA, país com os maiores mosteiros beneditinos do mundo -em torno de 200 por instituição-, como tema, tendo a participação de artistas brasileiros e latino-americanos.
Foi, porém, neste 2001 que os monges deram seu passo mais ambicioso: a gravação do CD "Clestia", de Fortuna, 43, com músicas sefaraditas, dos judeus espanhóis, e outras da própria cantora. É a união, pela música, de duas religiões que vivem em conflito há séculos (leia texto nesta página).
Faz um ano e meio que a judia e os monges trabalham juntos. "Clestia" e "Cantus Selecti" foram gravados na sequência. Os monges ensaiaram e gravaram nas pausas das 12 orações que fazem ao dia. "O coro monástico surge naturalmente porque cantamos as orações em vez de simplesmente rezá-las. Nossa preocupação está em ressaltar o texto: utilizamos a música como acessório para realçar a palavra do Senhor", diz dom Rocco.
O encontro contou com o apoio do Centro de Cultura de Israel, um dos viabilizadores do projeto.
Para os dois álbuns, as músicas escolhidas datam da alta Idade Média. As mesmas letras -presentes em "Cantus Selecti" e hoje na missa- já foram utilizadas por muitos compositores eruditos, como Mozart ("Ave Verum") e Teleman ("Te Deum"), que, no entanto, modificaram profundamente a melodia. "As monjas beneditinas também sempre cantaram o gregoriano, ao contrário de corais de outras épocas, exclusivamente masculinos", afirma dom Rocco.
Segundo ele, o canto gregoriano tem raízes na música das igrejas orientais e de sinagoga -daí a não surpresa do encontro hoje formalizado. Passadas pelas gerações por tradição oral, as canções foram reunidas e sistematizadas no ano 600 pelo papa São Gregório Magno, dando origem ao canto gregoriano, que teve seu apogeu de 700 a 900. Somente em 1.050 o monge beneditino Guido D'Arezzo determinou os intervalos e deu nome às notas musicais.


CONSAGRAÇÃO DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO - com músicas do CD "Cantus Selecti". Onde: Mosteiro de São Bento (lgo. de São Bento, s/nš, tel. 228-3633). Quando: hoje, às 16h45. Quanto: entrada franca (limitada a 600 pessoas).



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