São Paulo, Terça-feira, 05 de Outubro de 1999
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Arte nordestina transita pelo mundo

JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha

"Perguntar-se pela identidade nordestina na arte é uma questão moderna: datada e ultrapassada." É com essa visão que o módulo dedicado às artes plásticas do "Projeto Nordestes" se oferece aos visitantes, tendo logo à entrada uma escultura de Eduardo Frota, autor das aspas acima.
Os trabalhos de Frota são compridos tubos contorcidos, feitos de arruelas de madeira metodicamente coladas, que revelam seu interior, sugando o olhar.
Para Moacir dos Anjos, curador da mostra, muito da arte produzida atualmente no Nordeste é uma arte em trânsito, que estabelece pontes entre regional e universal, tradicional e contemporâneo.
Ele fornece o exemplo da pintura de Delson Uchôa, que traz nas cores fortes muito do que se identifica como arte nordestina, mas na geometria e na formalização transpõe o elogio à essa arte.
A geometria e as cores estão presentes também no trabalho de José Patrício. A obra da série "Dominós" que ele expõe no Sesc agrupa centenas de peças do jogo, em uma montagem de lógica quase matemática.
A utilização de produtos industriais que se repetem é uma marca: "O módulo está muito presente no meu trabalho, me interessa construir um todo a partir da repetição de pequenas bugigangas disponíveis para comprar", diz.
Se Patrício multiplica o símbolo popular, Marepe evidencia pela descontextualização os objetos do cotidiano. Quem foi à mostra "O Objeto, Anos 90" no primeiro semestre de 99 no Itaú Cultural não ficou indiferente àqueles filtros gigantescos que o artista expôs.
Para o "Projeto Nordestes", Marepe montou uma instalação cheia de referências ao seu próprio cotidiano.
Marcelo Coutinho trouxe também um universo mais que próprio: seu vocabulário. O artista, que foi selecionado para o Panorama 99, materializa em suas obras os neologismos que constrói para designar sensações antes impossíveis de verbalizar.
Sua instalação é formada por uma cama presa à parede em posição vertical, um lençol que se estende até o chão, dois bancos com uma escultura entre eles, como a preencher o vazio entre as pernas de um casal sentado nos bancos.
Trata-se da conformação física da palavra "vêdo", primeiro verbete que Coutinho criou. "Vêdo" traduz a sensação de quanto tudo está ligado, como os fragmentos de texto dispostos em bilhetes espalhados pela instalação, que constituem um texto dele.
A exposição traz ainda obras de Marcelo Silveira, Alexandre Nóbrega, Efrain Almeida, Oriana Duarte, José Guedes, José Rufino, Paulo Pereira, Martinho Patrício, Gil Vicente, Delson Uchôa e Alice Vinagre e pode se vista de terça a sábado, das 10h às 21h30 e aos domingos, das 10h às 21h.



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