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Arte nordestina transita pelo mundo
JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha
"Perguntar-se pela identidade
nordestina na arte é uma questão
moderna: datada e ultrapassada."
É com essa visão que o módulo
dedicado às artes plásticas do
"Projeto Nordestes" se oferece
aos visitantes, tendo logo à entrada uma escultura de Eduardo
Frota, autor das aspas acima.
Os trabalhos de Frota são compridos tubos contorcidos, feitos
de arruelas de madeira metodicamente coladas, que revelam seu
interior, sugando o olhar.
Para Moacir dos Anjos, curador
da mostra, muito da arte produzida atualmente no Nordeste é uma
arte em trânsito, que estabelece
pontes entre regional e universal,
tradicional e contemporâneo.
Ele fornece o exemplo da pintura de Delson Uchôa, que traz nas
cores fortes muito do que se identifica como arte nordestina, mas
na geometria e na formalização
transpõe o elogio à essa arte.
A geometria e as cores estão
presentes também no trabalho de
José Patrício. A obra da série "Dominós" que ele expõe no Sesc
agrupa centenas de peças do jogo,
em uma montagem de lógica
quase matemática.
A utilização de produtos industriais que se repetem é uma marca: "O módulo está muito presente no meu trabalho, me interessa
construir um todo a partir da repetição de pequenas bugigangas
disponíveis para comprar", diz.
Se Patrício multiplica o símbolo
popular, Marepe evidencia pela
descontextualização os objetos do
cotidiano. Quem foi à mostra "O
Objeto, Anos 90" no primeiro semestre de 99 no Itaú Cultural não
ficou indiferente àqueles filtros
gigantescos que o artista expôs.
Para o "Projeto Nordestes", Marepe montou uma instalação
cheia de referências ao seu próprio cotidiano.
Marcelo Coutinho trouxe também um universo mais que próprio: seu vocabulário. O artista,
que foi selecionado para o Panorama 99, materializa em suas
obras os neologismos que constrói para designar sensações antes
impossíveis de verbalizar.
Sua instalação é formada por
uma cama presa à parede em posição vertical, um lençol que se estende até o chão, dois bancos com
uma escultura entre eles, como a
preencher o vazio entre as pernas
de um casal sentado nos bancos.
Trata-se da conformação física
da palavra "vêdo", primeiro verbete que Coutinho criou. "Vêdo"
traduz a sensação de quanto tudo
está ligado, como os fragmentos
de texto dispostos em bilhetes espalhados pela instalação, que
constituem um texto dele.
A exposição traz ainda obras de
Marcelo Silveira, Alexandre Nóbrega, Efrain Almeida, Oriana
Duarte, José Guedes, José Rufino,
Paulo Pereira, Martinho Patrício,
Gil Vicente, Delson Uchôa e Alice
Vinagre e pode se vista de terça a
sábado, das 10h às 21h30 e aos domingos, das 10h às 21h.
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