São Paulo, segunda-feira, 06 de janeiro de 2003 |
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MÚSICA "Samba de Gente Bamba" reúne nomes tradicionais do gênero no hall de convivência do Sesc Consolação a partir de hoje Germano Mathias puxa o samba paulista
ISRAEL DO VALE DA REPORTAGEM LOCAL O samba paulista levanta, sacode a poeira e abandona as sombras de seu túmulo imaginário ao longo deste mês, para um intensivão que alternará dez artistas e grupos no palco do Sesc Consolação. O primeiro passo dessa insurreição será dado esta noite por Germano Mathias, talvez o nome mais representativo entre os que mantêm a bandeira do samba bandeirante hasteada -no caso dele, desde muito antes da provocação funerária atribuída a Vinicius de Moraes (a despeito de Adoniran, Vanzolini ou Gudin). As 20 apresentações previstas até o final do mês passam em revista três gerações do gênero. Mesmo sem a intenção do antagonismo geográfico, a programação dedica atenção especial sobre a produção paulista. As exceções são o carioca Moacyr Luz e o mineiro Noite Ilustrada -este, de carreira erguida em São Paulo desde os anos 50. A imagem desgastada do "túmulo do samba" avizinha-se do território do folclore futebolístico, segundo Moacyr Luz, o único conterrâneo de Vinicius escalado para o evento. "Passou-se a falar isso dentro daquela rivalidade de que São Paulo trabalha enquanto o Rio fica na praia, como se fosse uma disputa de dois times num campeonato", ensaia o compositor e cantor, parceiro contumaz de Aldir Blanc e Paulo Cesar Pinheiro. "São Paulo sempre esteve ligada diretamente ao samba, com uma grande capacidade de compreender e respeitar", diz. Com seus discos lançados por gravadoras paulistas (primeiro a Dabliú, agora a Lua Discos), Luz vê um refluxo de interesse pelo samba carioca similar ao que foi promovido pelos DCEs nos anos 60. "Houve um momento em que Cartola e Nelson Cavaquinho estavam no ostracismo no Rio, e os DCEs das faculdades paulistas eram os únicos que os convidavam para tocar", conta. A porta de entrada do samba de raiz (em paralelo ao alvoroço do pagode pop dos anos 90) tem sido os selos independentes paulistanos. "A Beth Carvalho gravou pela Jam Music; o Luiz Carlos da Vila, pelo CPC-Umes; eu e Guilherme de Brito, pela Lua", enfileira. A mostra de que a relação da cidade com o samba não é apenas passiva é esboçada pelo evento do Sesc, batizado como "Samba de Gente Bamba". Das dez atrações, pelo menos a metade começou a pisar (com trabalho próprio) neste terreiro na última década, com atuações de diferentes matizes. Dois grupos têm marcas mais fortes em suas searas. O Quinteto em Branco e Preto, filiado ao samba de raiz, ganhou respeito como combo de acompanhamento de nomes consagrados, especialmente os da velha guarda carioca, em estada paulista. O que poderia apenas reafirmar a sina da "carona" acabou por viabilizar o desenvolvimento de um trabalho autoral robusto, que os mantém nos palcos. De outro lado, Marco Mattoli e seu Clube do Balanço fazem hoje a única tentativa sistemática de atualização do samba-rock, recorte de repertório limitado que teve seu auge nos anos 70, insinuou certos suspiros nos 80, mas não teve fôlego para se renovar. Vem do esforço pessoal de Mattoli, certamente, a maior parcela da visibilidade recente obtida pelo gênero consagrado por nomes como Jorge Ben (então, sem o Jor), Trio Mocotó, Marku Ribas, Branca di Neve, Boca Nervosa e Bebeto. SAMBA DE GENTE BAMBA. Onde: hall de convivência do Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 3234-3000). Quando: de hoje a 30 de janeiro; de seg. a sex., às 20h. Hoje e amanhã, Germano Mathias. Quanto: entrada franca. Leia a programação completa na Ilustrada Online - www.folha.uol.br/folha/ilustrada Índice |
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