São Paulo, terça-feira, 06 de fevereiro de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

"O Marinheiro Só", retrospectiva do pintor brasileiro, apresenta cem telas no museu da FAAP

Pancetti traz as cores e luzes do Brasil a São Paulo


Divulgação
"Itapoan", tela de Pancetti, que está na mostra "O Marinheiro Só", na FAAP


DA REPORTAGEM LOCAL


Um dos pintores que melhor retrataram as cores e a luz da paisagem brasileira ganha a partir de hoje uma retrospectiva em São Paulo. "O Marinheiro Só" desembarca no Museu de Arte Brasileira da Faap com cem telas do pintor brasileiro Pancetti, após ter sido vista em Salvador.
"Pancetti é um pintor pouco visto, em parte por ser marinheiro e também por ter ficado à margem dos movimentos artísticos nacionais", conta Denise Mattar, curadora da exposição. De fato, a última retrospectiva do artista ocorreu em 62, no MAM carioca.
A mostra que chega à cidade é dividida em quatro módulos. "Pancetti é mais conhecido por suas marinhas, mas achei importante também ressaltar outros aspectos de suas obras, como os retratos e as paisagens ", diz Denise.
Assim, no módulo "Navegar É Preciso" estão telas feitas em cidades como Campos do Jordão e São João del Rey. "É importante ressaltar como Pancetti conseguiu captar as cores de cada um dos muitos locais por onde passou", explica Denise.
Em "Um Certo Olhar" estão as naturezas-mortas, que revelam uma perspectiva fotográfica na construção das imagens, próxima à produção contemporânea.
Já em "Retratos de uma Vida" encontram-se os retratos e auto-retratos feitos pelo artista. "É interessante como nessa série ele se apresenta com vários alter egos, seja como pintor, marinheiro ou outras atividades", conta Denise.
Finalmente, em "O Mar Quando Quebra na Praia" estão as famosas marinas. De maneira didática, a seleção das obras apresenta claramente o desenvolvimento da carreira do artista até a obra "Itapoan" (1957), uma tela praticamente abstrata.
Pancetti nasceu em Campinas, em 1902. Mudou-se para São Paulo em 1910. Filho de italianos, o artista foi enviado pelos pais à Itália em 1913, onde, cinco anos depois, ingressou na Marinha Mercante. Aos 19 retornou ao Brasil para, em 1922, ser admitido na Marinha.
Com uma infância pobre e difícil, Pancetti tinha uma saúde frágil, com tendência à tuberculose. Sua carreira de marinheiro era um grande orgulho -seu auto-retrato como marinheiro está logo na entrada da exposição.
Ele unia seu amor pela profissão à carreira de pintor, utilizando velas de navio como telas -pelo o que chegou a ser até punido.
Autodidata, o artista chegou a participar do Núcleo Bernardelli (o correspondente carioca ao grupo paulista Santa Helena), em 33, no Rio, onde encontrou o pintor polonês Lechwski, que teve bastante influência em suas obras. Pancetti morreu em 58, após ter participado de duas bienais de São Paulo e ainda da Bienal de Veneza, em 50.
Com ambientação realizada por Guilherme Isnard, as paredes da mostra possuem cores utilizadas pelo próprio artista. A mostra ocorre ainda ao som de canções de Dorival Caymmi, sobrepostas ao som do mar de Salvador. Amigos, Pancetti e Caymmi costumavam embriagar-se juntos.
Poética e singela, a exposição fica pouco tempo em cartaz, apenas até o dia 28. Depois, será vista em Roma, na sede da embaixada brasileira. (FABIO CYPRIANO)

Exposição: Pancetti - O Marinheiro Só
Onde: Museu de Arte Brasileira da FAAP (r. Alagoas, 903, tel. 3662-1662, r. 1123)
Quando: abertura hoje, às 20h; ter. a sex., das 10h às 21h; sáb. e dom., das 13h às 18h. Até 28/2
Quanto: entrada gratuita
Patrocínio: Petrobras




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