DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1992, a companhia francesa de teatro de rua Royal de Luxe apresentou-se no Anhangabaú, no centro de São Paulo. Um palco gigantesco transformava-se em livro em "A Verdadeira História da França", com direito a efeitos especiais a cada virada de página. O público acompanhava o espetáculo sentado numa arquibancada.
No mesmo Anhangabaú, estréia hoje a temporada de "Hércules", espetáculo com o qual os grupos Pia Fraus e Parlapatões pretendem "romper com o pensamento estigmatizado com o qual o teatro de rua é tratado".
O diretor Beto Andreetta fala em mudança de paradigma "necessária para redimensionar e colocar em debate a importância do teatro na construção da cidadania".
A montagem de "Hércules" inclui arquibancada para 800 pessoas. No cenário, há uma carreta de 13 metros, cujas laterais se abrem e fecham em cena. A ala motorizada conta ainda com um carro de passeio, cinco motos e uma ambulância. Parte dos 26 atores transita por dois andaimes. Tudo para potencializar a alegoria.
O roteiro de Hugo Possolo busca, por meio da história do semideus Hércules, compreender os desafios do homem da antigüidade e atualizar essas questões para o mundo contemporâneo: guerra, fome, poderes econômicos, religiosos e políticos, entre outros.
Já o grupo Tablado de Arruar estreou anteontem, na praça do Patriarca, também no centro paulistano, o espetáculo "A Rua É um Rio". O texto de Alexandre Dal Farra aborda a relação de poder na metrópole, a partir do processo de construção dos grandes centros empresariais.
O enredo opõe o dono de uma construtora a uma moradora da favela que precisa ser removida. Em pauta, a exclusão.
"É a realidade do povo", diz a agente escolar Roseli Judite, 34.
A direção dos atores Martha Kiss e Vitor Vieira faz uso de um caminhão adaptado no qual acontecem algumas cenas.
Pia Fraus, Parlapatões e Tablado são grupos contemplados pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro. (VS)