São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2008

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Outra opinião

Menos Sarah Jessica e mais Dorothy Parker

CECILIA GIANNETTI
COLUNISTA DA FOLHA

"Sex and the City - O Filme" não traz nada palpitante ou muito diferente do que já foi visto em episódios de meia hora; exceto que o longa é mais arrastado que a versão televisiva.
Parece um episódio extra-longo, um sonho fashion com roteiro mais desnutrido que a protagonista, cuja última refeição de verdade deve ter ocorrido por volta de 1975.
Começa com uma recapitulação pouco sutil, encadeando cenas do seriado com Carrie e cia. "coladas" em páginas dos livros escritos por ela. E segue mantendo a mesma estrutura da TV, com as vidas das quatro costuradas por comentários trocadilhescos da protagonista ("Assim que Samantha conheceu Dante, ela desceu ao inferno" etc.)
Para quem deseja só ver moda, está de bom tamanho: a originalidade do filme fica por conta do figurino; lá pela segunda metade da fita surge a NY Fashion Week; e o tamanho do closet que Mr. Big manda construir para as tralhas da mulher é mais importante até que uma aliança de diamantes.
Fãs também não irão se importar muito com o plot diluído, pois irão ao cinema reencontrar velhas amigas; uma delas, inclusive, com idade para ser avó, mentalidade de adolescente e corpo de mulher de 30 que já fez dinheiro suficiente para ao menos tentar recuperar a silhueta que ostentava aos 19.
(Um parêntese para quem insiste em analisar o comportamento de mulheres usando "Sex and the City" como guia: este filme não é um retrato fidedigno do que se passa no universo feminino.)
Os 4 anos longe das câmeras foram cruéis com as personagens, que envelheceram mal; no longa, parecem tão vivas quanto displays de papelão em uma locadora. Por outro lado, esteticamente, estão em boa forma: continua surpreendendo a conservação de Kim Cattrall aos 51, única coisa realmente notável... Se for efeito especial, merece prêmio.
Defensores da série costumam afirmar que o maior objetivo do quarteto que não trota com sapatos de menos de US$ 300 não é prender um homem nos laços do matrimônio. Porém, aqui, o casamento de Carrie surge como o Santo Graal da trama, embora a festa não suscite emoção -exceto para platéias que ainda conseguem rir em cenas como a do motorista indiano (paquistanês, árabe, turco... varia de filme pra filme) que balança a cabeça enquanto ouve uma conversa entre amigas desiludidas em seu táxi.
O casório, aliás, é oportunidade para que outro péssimo trocadilho seja disparado por uma delas, que assim se refere a Big: "A man who finally got Carried away". Um homem que finalmente foi "Carriegado".
Com essa turma, relacionamentos não vão por água abaixo: lava-se o desgosto bebendo vodca como se fosse água.
"Os homens maus te f..., os homens bons te f..., e o resto não sabe f...", concluem a certa altura. A quem busca um bom retrato da guerra dos sexos, fica a recomendação: menos Sarah Jessica e mais Dorothy Parker.

Avaliação: ruim


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