UOL


São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2003

Índice

DEBATE

Especialistas estrangeiros e do Brasil abordam o teatro, a ficção e a filosofia do escritor argelino que faria 90 anos

Seminário examina vertentes de Camus

4.ago.1949 - Folha Imagem
Albert Camus come feijoada ao lado da arquiteta Lina Bo Bardi na casa de Oswald de Andrade, durante visita ao Brasil em 1949


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

As vertentes do teatro, da ficção e da filosofia na obra de Albert Camus (1913-60) serão analisadas em seminário público que acontece de hoje a quinta-feira em São Paulo, no Ágora - Centro para Desenvolvimento Teatral.
Se vivo, o escritor argelino, completaria 90 anos no próximo dia 7 de novembro.
Autor de romances como "O Estrangeiro" (1942) e "A Peste" (1947) e do ensaio "O Mito de Sísifo" (1943), Camus (pronuncia-se "cami") recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1957, pouco mais de dois anos antes de morrer em um acidente automobilístico. Tinha 46 anos.
Na primeira noite do seminário (leia a programação em quadro nesta pág.), o professor francês Jean Yves Guérin, da Universidade Paris 10 Nanterre, vai discorrer sobre Camus e o teatro.
A dramaturgia camusiana desponta nos anos 40 e 50, quando adapta obras dos espanhóis Calderón de la Barca e Lope de Vega, do russo Dostoiévski e do norte-americano William Faulkner.
Entre as peças de sua lavra, estão "Calígula" (1944), apontada pelos críticos como a melhor incursão no gênero, "O Mal-Entendido" (44), "O Estado de Sítio" (48) e "Os Justos" (49).
Esta última versa sobre um grupo de oposição na Rússia czarista do início do século 20 que vê na ação terrorista a única via para a revolução. "Os Justos" foi analisada em ensaios por Guérin e será montada em breve pelo Ágora, sob direção de Roberto Lage.

Experiência pessoal
Amanhã, um dos mais importantes militantes da cultura negra no Brasil, Abdias do Nascimento, 89, contará sua experiência com Camus, em 1949, quando o escritor visitou o Brasil.
À época, Nascimento preparava, no Rio de Janeiro, a montagem de "Calígula" com o grupo Teatro Experimental do Negro (1944-1968), do qual foi um dos fundadores e responsável, também, pelo lançamento do jornal "Quilombo" (1948-1950).
"Nascimento é testemunha viva. Diga-se de passagem, essa experiência foi marcante na obra de Camus, redundando no conto "A Pedra que Cresce", do volume "O Exílio e o Reino", que se passa no Brasil e retoma a viagem que Camus fez a Iguape [São Paulo], em companhia de Oswald de Andrade", afirma o jornalista e colunista da Folha Manuel Costa Pinto, 37, responsável pela curadoria do seminário.
Na quarta-feira, o sociólogo e crítico literário argentino Horacio González abordará a perspectiva do filósofo e ensaísta sobre a idéia do "homem rebelde".
"Vou tratar da possibilidade de trazer esta idéia para o debate atual, em relação ao que poderíamos chamar de forma moral da época, isto é, as decisões políticas que podem implicar a morte de milhares de pessoas", afirma González, autor de "Albert Camus - A Libertinagem do Sol", uma biografia romanceada publicada nos anos 80.
"É possível revisar a política a partir da crítica e da idéia do sacrifício da vida humana? É possível recriar um humanismo sem candura e nem efetivo, a partir do retrocesso dos "crimes lógicos" da história?", continua o crítico e professor da Universidade de Buenos Aires.
A última noite do seminário, na quinta-feira, trará o professor suíço Raymond Gay-Crosier, da Universidade da Flórida. Organizador de um colóquio recente sobre o autor homenageado, ele discutirá "a ficção do absurdo" na obra de Camus.


Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.